Revista digital-objeto · 2006
Revista organizada por Fabio FON, NÓISGRANDE reuniu criações em poesia digital de artistas e poetas em uma noz-receptáculo. O título é uma menção poética a importante grupo da poesia concreta brasileira, Noigandres.
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Nos anos 50, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, formaram um grupo denominado Noigandres, apresentando o que seria uma nova prática poética – a concreta. O nome, retirado do Canto XX dos Cantares de Ezra Pound, no qual o poeta americano fazia referência ao poeta provençal Arnaut Daniel, além de instigar a uma busca de significados – trata-se um verdadeiro enigma – indica o universo de autores como Mallarmé, Joyce entre outros, que viria a alimentar a produção concreta. Do nome do grupo, surgiria também a revista Noigandres, produção seminal das idéias dos irmãos Campos e Pignatari, onde se presenciou em 1958, o famoso Plano Piloto da Poesia Concreta, onde se declara a poesia concreta como um resultado de “uma evolução crítica das formas”.
Em 2006, passados quase 50 anos, alimentando-se do importante legado concretista, Fabio FON (Fábio Oliveira Nunes) organiza a revista digital-objeto NÓISGRANDE, reunindo dez artistas e poetas e lançada no dia 07 de abril daquele ano na Casa das Rosas, localizada no número 37 da Avenida Paulista, em São Paulo.
NÓISGRANDE foi uma revista literária com particularidades: seria antes de tudo, um objeto de arte (com limitada tiragem de 70 unidades). Sob a forma de uma noz, produzido em resina acrílica transparente, cada objeto possuía em seu interior, um CD-ROM com os trabalhos desenvolvidos em softwares de hipermídia. Ou seja, reúne linguagens e suportes num produto híbrido em sua essência. Esse hibridismo de linguagens é também herdado de antecessores mais recentes como a produção independente da Nomuque Edições. A Nomuque é responsável, desde os anos 1970, por publicações de baixa tiragem em suportes inusitados: a revista Artéria – o carro-chefe dos editores Omar Khouri e Paulo Miranda – já foi desde uma caixa de fósforos a uma sacolinha de poemas. Nesta revista digital-objeto, ambos editores são convidados especiais e participam com trabalhos trazidos para o meio digital. Além de Khouri e Miranda, a revista recebeu contribuições de nomes emergentes como Daniele Gomes, poeta visual, Diniz Gonçalves Júnior, poeta, Edgar Franco, artista multimídia, Josiel Vieira, escritor e artista plástico, Letícia Tonon, poeta e artista plástica, Peter de Brito, fotógrafo e Vivian Puxian, artista plástica. A revista possuiu ainda texto de apresentação de Giuliano Tosin. Fabio FON é organizador e também participante da revista.
TEXTO DE APRESENTAÇÃO DA REVISTA POR GIULIANO TOSIN
Noigandres, eh noigandres / Now what the DEFFIL can that mean! O enigma continua. Nem mesmo todo o “olor contra o tédio” do mundo dá conta de desvendar a incógnita citada no vigésimo canto de Pound, inspiradora dos concretistas e revisitada aqui, num bem-humorado trocadilho, por essa revista digital-objeto. Encoberta sob a forma enigmática de uma noz, casulo de uma larva que carrega seus genes em bytes, a revista revela o momento evolutivo das iniciativas independentes de produção, aquelas geradas e gerenciadas pelos próprios artistas. Lembra a trajetória de livros-objeto, livros de artista, poemas-objeto e outras experiências do gênero, e entra na fila das prováveis raridades, peças de exposição e pesquisa nas próximas décadas. Por tratar-se em parte de uma mídia reprodutível domesticamente, pertence também ao processo que suas vísceras sejam disseminadas em gavetas e discos rígidos por aí. Esse universo numa casca de noz conduz aos tempos imaginários de uma nova geração – “é nóis na fita”, mais precisamente oito jovens que têm sido cada vez mais percebidos no panorama das artes digitais. Contam com a aliança dos históricos lutadores Nomuque, e criam um conjunto onde fotos, games, poesia visual, desenhos, HQs, design e outros, são filtrados por um único software condutor da sinergia na qual a criatividade dos artistas transcende os limites conceituais das especificidades artísticas. Do contemplativo ao interativo, do intelectual ao sensório, NÓISGRANDE oferece percursos para nos aprofundarmos nos enigmas propostos pelas poéticas emergentes.