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Três categorias da web arte
Fabio Oliveira Nunes (Fabio FON)
A enorme quantidade e diversidade de trabalhos de arte criada
especialmente para a Internet é um reflexo do meio. Em
todas as partes do mundo é possível encontrar inúmeros
usos insólitos, não-convencionais ou artísticos
que utilizam conceitos que rompem com as expectativas do usuário
da Web ou oferecem algum tipo de contemplação estética
ou narrativas complexas em suas criações. É
certo que nem tudo que é insólito ou pouco convencional
pode ser considerado como Web Arte, mas certamente, todo experimentalismo
que aparece na rede é um caminho para o surgimento de novas
experiências que podem vir a ser legitimadas como trabalhos
de arte. Por outro lado, a Internet é extremamente dinâmica:
a cada instante milhares de novos sites são incluídos,
outros muitos são excluídos e periodicamente surgem
novos programas e scripts que proporcionam novas possibilidades
de criação para a rede.
Mesmo diante de uma quantidade incerta e de uma diversidade exorbitante,
tentaremos determinar semelhanças entre os trabalhos de
Web Arte que serão analisados. Em primeiro lugar, é
necessário dizer que seria inviável tentar categorizar
os trabalhos analisados com extrema exatidão, pois diante
das muitas vertentes seguidas por cada um dos artistas, partiríamos
para um número gigantesco de categorias, diante das possibilidades
que o meio digital proporciona. Em segundo lugar, separar os muitos
trabalhos por técnica utilizada ( HTML, VRML, Flash, Java
etc), seria uma solução muito fácil - sem
dúvida nenhuma - mas que se tornaria extremamente obsoleta
em pouco tempo, decorrente da constante evolução
dos softwares e do surgimento de novas linguagens e programas
para criação de sites.
Assim sendo, iremos aqui determinar categorias que primam por
uma característica predominante em comum com os outros
participantes do mesmo grupo, mas que partem das bases mais primárias,
anteriores a qualquer discussão que o trabalho estabeleça.
Além disso, as características principais de cada
categoria são comuns aos trabalhos dos outros grupos: aqui
o que interessa é a característica que se apresenta
com maior intensidade. Desta forma, todo trabalho de Web Arte
poderá ser incluso em três categorias básicas:
Metalinguísticos, Narrativos e Participativos.
A princípio, é certo que as características
dos grupos são comuns a todos os trabalhos. Afinal de contas,
ao se adotar um meio e suporte, as questões de metalinguagem
são inevitáveis e necessárias para a conclusão
de qualquer objeto de arte. Assim como as seqüências
narrativas podem existir em qualquer trabalho diante das possibilidades
de caminhos de leitura. E ainda mais especificamente ao meio telemático:
qualquer site que possua um determinado número de links
pede a participação do usuário. Assim sendo,
estas características são comuns a todos os trabalhos,
mas são utilizadas para demarcar o que predominante em
cada um dos grupos.
Metalinguísticos
Os sites deste grupo caracterizam-se pela discussão centrada
na linguagem do meio e nas características intrínsecas
ao meio telemático, distúrbios de informação,
iconografia computacional, entre outros códigos e simbologias
típicas do universo informático. Assim como em outros
campos das Artes Visuais, a discussão relativa ao meio
poderá vir a gerar uma certa perplexidade no visitante
devido a necessidade de conhecimento de códigos específicos
da matéria tratada.
Estes sites de Web Arte irão romper com as expectativas
do usuário comum: aqueles elementos que normalmente são
utilizados com determinadas finalidades para o funcionamento do
computador - cursores, botões, formulários, notas
de linguagem de programação etc. - se transformarão
em elementos com fins estéticos. Se tornam criações
que se referem a si mesmas. Outros sites da mesma categoria, poderão
ser um pouco menos explícitos: utilizarão metáforas
e algumas práticas e fatos comuns da Internet ou do meio
informático.
Nesta categoria estão incluídos também os
sites de discussão e divulgação de experiências
artísticas na rede que contribuem para o estabelecimento
de paradigmas - e público também - e produzem a
metalinguagem propriamente dita.
Narrativos
Os sites deste grupo caracterizam-se pelo Discurso narrativo:
existe uma forte influência da literatura hipertextual,
uso do verbal como parte integrante dos elementos de composição,
imagens e atos com seqüências preestabelecidas, animações
com início e término definidos, entre outras características
que levam a tona propostas que existem independentemente da rede
mas que foram especialmente concebidas para a sua disseminação
utilizando este meio e suas possibilidades.
Estes trabalhos podem ser colocados no mesmo rol dos quadrinhos,
do vídeo e do cinema quando se pensa em uma arte seqüencial,
onde é possível partir para uma análise metonímica
- uma parte pela totalidade - ou análise geral, onde o
discurso deverá tratar de elementos externos ao meio, dos
mais diversos sob as mais diferentes óticas. Embora todos
possuem seqüências preestabelecidas, na Internet, a
prática de escolha ativa de diferentes caminhos a serem
seguidos é muito mais comum, graças aos hiperlinks.
Participativos
Os sites deste grupo são caracterizados pelo Processo como
foco principal: uso de tecnologias e dispositivos de ação
em tempo real, alterações via rede de espaços
ou elementos reais, visualização e interação
com imagens ao vivo, entre outras características que tornam
o espectador, um verdadeiro co-autor do trabalho. Aqui a intenção
não é exatamente expor um trabalho final e sim,
o processo de participação do espectador com a proposta
que lhe é dada. Os trabalhos que se utilizam de Web Cams,
programas de mensagens em tempo real, salas de bate-papo, aplicativos
com participação de vários usuários
simultaneamente, controle remoto de robôs ou dispositivos
mecânicos e eletrônicos, entre outros trabalhos de
respostas e resultados instantâneos são incluídos
neste grupo.
Diferentemente de algumas criações das outras categorias
que podem ser apreciadas em suportes off-line - em disquetes,
discos rígidos ou CD-Roms - sem necessidade de estar conectado
a rede, aqui o trabalho só existe quando está na
Internet. A estrutura física da rede (computadores, cabos
de fibra ótica, satélites) é necessária
para que os acontecimentos do ciberespaço se darem em tempo
real, com apreciação e participação
de vários visitantes ao mesmo tempo.
Este texto é parte integrante
do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Artes
Plásticas “Web Arte no Brasil: A arte telemática
criada por artistas brasileiros para a Internet”, realizado
sob a orientação do Prof. Dr. Milton Sogabe na UNESP
– Universidade Estadual Paulista. Esta pesquisa em nível
Iniciação Científica contou com
o apoio da FAPESP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre
em contato. |