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Ciberespaço e a virtualidade
Fabio Oliveira Nunes (Fabio FON)
Atualmente, Ciberespaço e Internet se tornaram sinônimos,
o motivo é muito simples: é especialmente na rede
que grande parte das características do Ciberespaço
se manifestam. Se tornam quase uma coisa só ou a mesma
coisa. É na Internet que torna-se mais visíveis
os fluxos informacionais que acontecem pelo mundo, destituídos
de fronteiras e independentes de posições geográficas.
Embora a Internet seja sua maior representante até agora,
o Ciberespaço independe da rede para existir: uma prova
disso é que muito antes do advento comercial da rede, já
em 1984, o livro Neouromancer de Willian Gibson, trazia consigo
o termo "ciberespaço" (ou cyberspace). Assim,
a trama informacional construída pelo entrelaçamento
de meios de telecomunicação e informática,
tanto digitais como analógicos, em escala global ou regional,
como telefones convencionais, telefones celulares, rádio,
televisão; infraestrutura de cabos de cobre, fibras óticas,
ondas de rádio ou satélite, organizados em redes
locais, globais, tendo seus terminais de comunicação
ou suas informações gerenciadas por computadores,
forma o Ciberespaço (Duarte, s/d). Sobre o Ciberespaço,
define Gilbertto Prado:
"Este poderia ser o lugar, a zona intermediária,
o no man's land onde a tecnologia encontra a rua. Um tipo de estrada
consensual experimentada por milhões de operadores conectados
- vizinhos virtuais - , cada dia, nesse espaço que eles
mesmos criaram, para uma visão simultânea do mundo,
inscritos no tempo real da emissão e recepção"
(Prado, 1997:43 (2))
O Ciberespaço, constituído de fluxos de informações
que relacionam os mais diversos meios de comunicação,
mostra-se ao usuário sob a ótica do virtual que
- ao contrário do que se acredita - não se opõe
ao real e sim demostra aquilo que é potencial. "A
palavra virtual vem do latim medieval virtuale, significando o
que existe como faculdade, porém sem exercício ou
efeito atual. Provém daí seu segundo significado
como algo suscetível de se realizar; potencial. Na filosofia
escolástica é virtual o que existe em potência,
não em ato, resultando numa terceira referência à
virtual como o que está predeterminado e contém
as condições essenciais à sua realização"
(Rey, 1998:29). Este conceito torna-se muito mais claro ao relacionar
com a obra de arte: um exemplo de virtualidade é apresentado
nas pinturas do renascimento italiano que através do estudo
das leis de projeção da ótica, realizam o
processo de transposição de espaços reais
(tridimensionais) para um espaço virtual (bidimensional).
O virtual aqui é a profundidade de campo que é somente
sugerida com a intenção de "causar a ilusão"
de espaço em três dimensões. Sem dúvida,
existe a idéia de Mimesis (representação
da realidade), que governou a criação de imagens
por mais de quatro séculos de arte e que motivou a criação
de novos meios de representação, como a fotografia,
o cinema e, por último, a televisão.
"A virtualização não é, em
nenhum momento, um desaparecimento ou uma ilusão. Ela é,
afirma Lévy (nota),
uma dessubstancialização que se inclina na desterritorialização,
num efeito Moebius, na passagem sucessiva do privado ao público,
do interior ao exterior e vice-versa. A subjetivação
(dispositivos técnicos, semióticos e sociais no
funcionamento somático e fisiológico do indivíduo)
e a objetivação (influência dos atos subjetivos
na construção do mundo) são dois movimentos
complementares desse processo virtualizante. Para Lévy,
a virtualização não é um fenômeno
recente, pois toda a espécie humana se construiu por virtualizações
(gramaticais, dialéticas e retóricas). O real, o
possível, o atual e o virtual são complementares
e possuem uma dignidade ontológica equivalente" (Lemos,
s/d) .
Enquanto a virtualidade adentra questões da representação
da imagem para o indivíduo que acessa informações,
o Ciberespaço aborda os meios de relacionamento entre indivíduos
que acontecem por meio de interfaces intrinsecamente virtuais.
Embora a virtualidade seja um conceito independente da existência
de meios tecnológicos de difusão de informações,
o Ciberespaço necessita da virtualização
para viabilizar o provimento de dados. Ou seja, ao colocar disponível
na Internet - e consequentemente dentro do Ciberespaço
- uma pintura qualquer, é necessário tornar a imagem
virtual, uma representação digital ilusória
daquilo que seria um objeto da realidade, mas ainda sim mantém
potencialidades suficientes para a imagem ser entendida como originária
de uma pintura. Tornar-se virtual não é privilégio
das imagens:
"A Informação é uma virtualização.
Se um acontecimento é retratado pelos media, essa circulação
corresponde a uma virtualização do acontecimento,
sob a forma da informação. Neste sentido, uma informação
não é destruída pelo seu consumo justamente
por ser sempre "virtualizante". A utilização/recepção
da informação é a sua atualização,
já que somos nós que damos sentidos a ela. Nós
a atualizamos". (Lemos, s/d)
Os lugares virtuais do Ciberespaço, também conhecidos
como ciberlugares, são constituídos com independência
de posições geográficas e com afinidades
de interesses comuns entre os indivíduos. "Os
ciberlugares têm um exemplo marcante na formação
de comunidades virtuais, pessoas que se conectam, formam grupos
de discussão, trocam informações, enfim,
aproximam-se por afinidades que não são ligadas
a suas localizações geográficas"
(Duarte, s/d). Um exemplo comum na Internet, para entendimento
dos ciberlugares, é o uso do IRC ( Internet Relax Chat)
nas salas de bate-papo que são utilizadas simultaneamente
por muitos internautas. Nos servidores de IRC são disponibilizadas
inúmeras salas de bate-papo de interesses diversos - esportes,
política, religião - abertas a todos, unindo usuários
com os mesmo interesses. Com uma freqüência de acesso
pelos mesmos usuários em determinados dias e horários,
e estabelecendo vínculos de relacionamento constante entre
o ciberlugar e o grupo de indivíduos, teremos a constituição
de uma comunidade virtual. O ciberlugar é o ponto de encontro
entre esses indivíduos e onde acontece o fluxo permanente
de informações, podendo ser além de uma sala
de bate-papo, uma lista de discussão - via correio eletrônico
- ou um ambiente multi-usuário de realidade virtual 3D.
Algumas considerações típicas dos territórios
- reais - dependentes de proximidades geográficas, como
por exemplo, fronteiras e controle do estado como agente normalizador,
perdem força no Ciberespaço. O espaço virtual
é um só e pouco importa se o indivíduo que
se encontra na França ou na Austrália ao acessar
uma informação que está nos Estados Unidos,
o procedimento será sempre o mesmo. Com o Ciberespaço
existe uma superação dos padrões geopolíticos,
e dois casos exemplificam o uso da trama informacional contra
a vontade de governantes:
No México, em 1994, os zapatistas rebelados contra o governo
do PRI (Partido Revolucionário Institucional, um nome contraditório,
diga-se de passagem), isolados na região do Chiapas, conseguem
mobilizar os meios de comunicação e a opinião
pública internacional para a sua causa divulgando informações
na Internet, através de sítios localizados em outros
países. Na tentativa de golpe de estado na União
Soviética, em 1991, uma das medidas foi o corte das linhas
telefônicas e o fechamento de jornais. Porém, as
estáveis ligações via Internet com a Finlândia,
possibilitou que as informações sobre a situação
política no país socialista viesse a público
numa dimensão global, auxiliando a tomada de medidas contra
o golpe. É ainda por meio do Ciberespaço, que poderemos
conhecer um novo tipo de ataque: Países de pouco poder
bélico podem se tornar fortes inimigos de grandes potências
se a trama de meios de comunicação for utilizada
para desmantelar serviços essenciais como telefonia e distribuição
de energia elétrica, por exemplo. Esse tipo de guerra -
protagonizada por hackers oficiais - é perfeitamente possível
nos dias de hoje e devido a inter-relação de redes
de computadores pode causar prejuízos inestimáveis.
Das relações do indivíduo com o Ciberespaço
surge a cibercultura, que nas artes culmina com a utilização
de meios eletrônicos por parte dos artistas, o que podemos
chamar de Ciber-arte, cujo exemplos são muitos: a video-arte,
arte-robótica, telepresence art, ASCIIart, Tecno-body-art,
Web Arte entre outras experiências, como a música
eletrônica, sendo hoje atualizada para a música "tecno".
A Ciber-arte, desde que surgiu em meados dos anos 70, sempre teve
objetivos de conectar artistas de diferentes partes do globo e
dar uma maior importância ao processo de criação
do que ao produto final ( Lemos, s/d).
O Ciberespaço a cada dia torna-se um elemento cada vez
mais presente e necessário no cotidiano dos habitantes
urbanos e toda a sua desmaterialização e virtualização
presentes no fluxo de informações são refletidas
pela arte eletrônica que procura a interatividade e hibridação
cada vez maior de linguagens e conceitos.
Este texto é parte integrante
do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Artes
Plásticas “Web Arte no Brasil: A arte telemática
criada por artistas brasileiros para a Internet”, realizado
sob a orientação do Prof. Dr. Milton Sogabe na UNESP
– Universidade Estadual Paulista. Esta pesquisa em nível
Iniciação Científica contou com
o apoio da FAPESP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre
em contato.
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