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O que é Web Arte?
Fabio Oliveira Nunes (Fabio FON)
Tentar definir o que é um site de Web Arte acaba esbarrando
em uma procura de conceitos que vão muito além do
suporte utilizado e das teorias intrínsecas a este meio.
Tentar definir o que é um objeto artístico vai muito
além de técnicas, suportes ou conceitos estéticos
utilizados: é um amplo departamento do conhecimento humano
que relaciona-se diretamente com a sensibilidade estética
- de quem cria e aprecia arte - que irá realizar o julgamento
de objetos artísticos com conjeturas muito particulares,
muitas vezes calcadas no gosto pessoal.
A grosso modo, podemos dizer que um site de Web Arte disponibiliza
um canal de experiências visuais, sonoras ou temporais com
o visitante. Ao criar um trabalho de arte para a rede, parte-se
do princípio de estabelecer relações com
a sensibilidade do internauta, tornando a navegação,
uma experiência insólita, cômica, hermética,
repetitiva, labiríntica, estética etc. Aqui existe
uma busca de resultados subjetivos, intimamente ligados com a
experiência do visitante vivenciada no trabalho, que por
sua vez, se presta a um grande número de leituras particulares
que serão resultado direto da ação do repertório
visual do interpretante. Assim, a leitura de típicos trabalhos
de Web Arte que se utilizam de elementos do universo computacional
(botões padrão, barras de navegação,
mensagens típicas de softwares etc.) dependerão
da existência das informações deste universo
no repertório visual do visitante. Em outras palavras,
se ele não conhecer do que exatamente se trata, sua leitura
irá correr o sério risco de não ser satisfatória
e ficar somente no nível estético ou de composição
estrutural das imagens.
Atualmente, a Web Arte apresenta-se como uma expressão
com linguagem ainda em definição. Muito do que é
produzido para a Internet, ainda parte de conceitos oriundos de
outros meios já existentes, como a pintura, a fotografia,
o cinema e o vídeo. E em alguns casos, a influência
vai além do conceito: semelhanças formais - linhas,
formas e cores - acabam se apresentando também. Atualmente,
as releituras e citações de artistas de períodos
anteriores são práticas consagradas nas poéticas
artísticas contemporâneas e muito do que é
produzido com fins artísticos para a rede possui estes
princípios. A própria prática de arte em
rede, pode ser relacionada com a Mail Art - arte postal - dos
anos 60, quando artistas experimentaram novas possibilidades e
fizeram intercâmbios de criações em uma rede
livre e paralela ao circuito oficial das artes.
Além de possuir fortes bases em outros meios já
existentes - especialmente na pintura - a Web Arte estabelece
uma verdadeira troca com sua versão de arte aplicada: o
webdesign. Enquanto alguns designers buscam que suas criações
com intuitos comerciais ofereçam um aspecto muito mais
expressivo e autoral - desejando criar um estilo particular na
confecção de sites - os artistas da rede, por sua
vez, buscam nas soluções do design de tratamento
de imagens e nos mesmos softwares de criação, os
elementos necessários para viabilizar os seus trabalhos
artísticos. Para muitos, não existe uma fronteira
muito bem definida entre Web Arte e webdesign: os impressionantes
usos de técnicas - em geral, animações em
Flash - dotadas da primazia de domínio técnico,
acabam recebendo um equivocado status de arte. Por outro lado,
vários artistas da rede também realizam trabalhos
de webdesign. No Brasil, o artista
multimídia Rui Amaral pode ser considerado um exemplo
disso: na sua homepage possui tanto trabalhos de Web Arte - destituídos
de qualquer funcionalidade - quanto criações que
realiza com fins comerciais para a Internet e outros meios. Entre
os estrangeiros, podemos citar Yaromat
- que simula um sistema operacional bastante verossímil
- entre os muitos sites artísticos que são criados
por uma equipe ou empresa de webdesign.
Como já especificamos em outros momentos desta pesquisa,
podemos encontrar sites da Internet com a insígnia "artes",
basicamente de duas maneiras, definidos por Gilbertto Prado no
texto "Os sites de arte na rede Internet":
"Sites de divulgação: dessa categoria faz
parte a maioria dos sites que se encontra sobre a rubrica 'arte'
na Internet. Cabe assinalar que muitos dos trabalhos artísticos
disponíveis na rede, são imagens digitalizadas desse
material que estão expostas em galerias e espaços
museais. A rede nestes casos, funciona basicamente como um canal
de informação e indicativo para uma possível
visita a esses espaços. O caráter de informação
e de divulgação são prioritários e
remetem a todo tempo à obra original e/ou seu autor e/ou
espaço de exposição. (...)
Sites de realização de eventos e trabalhos na rede:
Nos dois primeiros grupos que citamos acima (sites de divulgação),
as redes são sobretudo 'estruturas', nos dois grupos que
se seguem elas intervêm mais como 'obra'. Essa participação
pode ser compartilhada diretamente com outros ou ser desencadeada
a partir de dispositivos particularmente desenvolvidos e direcionados
para esses eventos. Por esta classificação, não
queremos dizer que os artistas sejam definidos por uma única
forma de trabalhar como sua característica exclusiva. As
diferentes aproximações artísticas de produção
em rede não se excluem, elas são algumas vezes complementares
e geralmente concomitantes.
a) Dispositivo: É uma estrutura em rede estendida em diferentes
locais, onde o espectador e/ou artista agem - sem estar em contato
com outras pessoas - diretamente sobre o dispositivo, para iniciar
uma ação. O trabalho artístico se estabelece
com o desencadear da ação que é proposta
pelo artista, conceptor da 'obra' e que se inicia com a participação
do espectador.
(...)
b) Interface de contato e partilha: Trata-se também de
formações efêmeras de redes, mas nas quais
os trabalhos existem somente e graças a diferentes participantes
em locais diversos. Não é somente a noção
de fronteira que é quebrada, mas também o desejo
de estar 'em relação' com outros. As redes nesse
caso são utilizadas sobretudo com a intenção
de um trabalho coletivo e partilhado."
Aqui, temos dois grupos principais: os sites que possuem imagens,
vídeos ou animações de eventos e trabalhos
que existem fora da rede e independentemente dela - como o acervo
de museus e galerias virtuais - e os sites que exibem criações
especialmente produzidas para a Internet e que dependem deste
meio para existir e disseminar-se. Neste segundo grupo - dividido
por Prado em dois grupos - encontram-se todos os sites catalogados
nesta pesquisa como criações de Web Arte. Assim,
podemos determinar como Web Arte, trabalhos de arte que foram
especialmente concebidos para a Internet e que por conta disso,
utilizam as possibilidades e características inerentes
ao meio. O artista que se utiliza da rede como suporte, terá
- em via de regra - vários fatores a serem incorporados
ou renegados na construção de sua poética,
tais como:
Hipertexto - a utilização de hiperlinks entre documentos
de um site é a prática fundamental da rede. Além
de ser a responsável pela existência de complexas
estruturas de navegação, estabelece a escolha como
ponto fundamental para o comportamento ativo do Internauta. A
negação do hipertexto estabelece uma navegação
linear, semelhante a maioria dos livros impressos.
Instantaneidade - a rede possibilita o uso de diversos dispositivos
de software e hardware que viabilizam a comunicação
entre pessoas e a transmissão de imagem e som em tempo
real. Atualmente, existe uma dificuldade de uso destes dispositivos
diante da baixa transmissão de dados que a rede dispõe,
o que é uma fase transitória.
Interatividade - trata-se de um fenômeno comportamental
que com a existência dos suportes eletrônicos e digitais
torna-se cada vez mais efetiva. Interagir, agir, modificar e intervir
são possibilidades dos meios digitais que retornam mensagens
e ações instantâneas a cada intervenção
do usuário. Sua utilização na Internet está
intimamente ligada com o uso do hipertexto,
aplicativos multimídia e animações.
Imaterialidade - é um conceito diretamente relacionado
com a existência do ciberespaço.
A destituição de referenciais físicos tanto
geográficos como materiais torna a experiência do
Internauta, um grande fluxo de informações.
Alcance Mundial - toda criação na Internet já
nasce internacional. Não há fronteiras no mundo
virtual: somente caminhos a serem descobertos e percorridos. Muitos
sites brasileiros são produzidos em inglês com o
intuito de se tornarem muito mais visíveis. Pode-se negar
este elemento, quanto as criações relacionam-se
muito mais com o público local.
Reprodutibilidade infinita - a rede proporciona a cópia
infinita e a inexistência de original. Na prática,
a cada novo acesso a uma página da Internet, uma nova cópia
é transferida para o computador que visitou o endereço
da rede. Por outro lado, grande parte dos elementos gráficos
de um site podem ser copiados e consequentemente alterados quando
fora da Internet. Os conceitos de autoria e a "aura"
da obra de arte estão a cada dia mais conflitantes com
este meio.
Qualquer criação seja ela, artística ou não,
estará sujeita a estes elementos intrínsecos ao
funcionamento da Internet. Mas a Web Arte, em especial, poderá
se utilizar destes tópicos para centrar a sua produção
artística. Não se trata - simplesmente - de adotar
uma postura auto-referente: é a partir da consciência
dessas características que o artista poderá determinar
as diferenças deste meio em relação aos anteriores
e alcançar algumas experiências diretamente relacionadas
com o espectador do ciberespaço.
Este texto é parte integrante
do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Artes
Plásticas “Web Arte no Brasil: A arte telemática
criada por artistas brasileiros para a Internet”, realizado
sob a orientação do Prof. Dr. Milton Sogabe na UNESP
– Universidade Estadual Paulista. Esta pesquisa em nível
Iniciação Científica contou com
o apoio da FAPESP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre
em contato. |