– Que usabilidade nada. Isso
aqui é arte!
Fabio Oliveira Nunes (Fabio FON)
Se você vai traduzir uma
revista de arte do papel para o meio online, considere causar
estranhamento e proporcionar uma experiência insólita
– artística – distante de qualquer objetividade.
Quando a internet se popularizou, pouco se falava em um tipo
bem específico de produção na rede: os sites
de arte. Muito diferente do que se costuma entender, esse tipo
de produção não se resume a sites que referenciam
trabalhos de arte como museus ou galerias, apresentando pintores
ou escultores com seus trabalhos. É mais do que isso: artistas
passam a utilizar o meio criando trabalhos que vão levar
em consideração o que a rede tem de mais específico.
Os artistas farão com que o usuário pense sua relação
com a máquina e com as outras pessoas, num mundo onde os
relacionamentos são cada vez mais mediados pela teleinformática
(telefones digitais, mensagens instantâneas, e-mails e tantas
coisas mais).
Além, disso há também os artistas que vão
considerar as novas possibilidades do computador para criação
e visualização de imagens: é dentro desse
contexto que surge a revista Artéria
8.
A Artéria 8, oitavo número da revista experimental
de poesia Artéria, que em cada número se apresenta
de maneira diferente (de sacola com poemas a caixa de fósforos),
apresenta na internet cerca de 40 artistas e poetas que disponibilizam
seus trabalhos para a rede, pensando-os para serem vistos através
do computador.
Muitos deles são trabalhos pensados inicialmente para
outros meios (impresso, vídeo etc) mas, digamos, traduzidos
dentro das especificidades da rede: alguns se tornam seqüências
clicáveis, outros aliam movimento e interação.
O que está em jogo quando se cria um site de arte (e não
sobre arte) para a rede?
Primeiramente, reconsidere suas normas sobre usabilidade e acessibilidade:
o site deverá ter uma “personalidade” suficientemente
forte que incline o seu visitante a ter uma postura mais exploratória
e menos condicionada – devo ou não clicar aqui? O
que acontece se clicar? – o que vai trazer um estranhamento
inicial. Mas isso pode ter um custo talvez um pouco caro: muitos
não aceitarão o desafio e irão embora. Mas
lembre-se que aqui a moeda não é quantitativa. É
justamente esse estranhamento que irá tornar o site de
arte inesquecível aos poucos que nele se aventurarem, uma
experiência insólita.
Abrindo parênteses: no meu trabalho como webdesigner de
projetos essencialmente comerciais, observo que uma grande parte
dos meus clientes dificilmente entende a essência desse
tipo de site, justamente por não propor objetividade ao
visitante. Mas como costumo exemplificar aos meus alunos, os sites
de arte são como trabalhos de arte: enquanto no design
a mensagem está em função de quem recebe,
na arte está em função de quem cria. Ser
assimilada ou não, é uma segunda questão.
Ao mesmo tempo, em comparação à arte mais
tradicional, um site de arte (como Artéria 8), pode propor
situações novas já que esse sujeito é
ativo por excelência – Onde eu clico? – e inclinado
menos à contemplação e muito mais à
exploração. Como muitos artistas costumam relacionar
a web ao conceito do labirinto: muito mais importante do que encontrar
a saída é o percurso para encontrá-la.
Este texto foi publicado no dia
03 de feveireiro de 2005, na área de criação
do Webinsider (www.webinsider.com.br),
site de discussão sobre contexto e produção
nos meios digitais e tecnológicos.
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