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Ferramentas de ontem
CONTINUAÇÃO
No universo da Cibercultura, os programas de mensagens instantâneas
possuem um papel fundamental na criação de vínculos
permanentes entre os usuários da rede. Com esse tipo de
software, o "encontro" entre duas ou mais pessoas conectadas
ao mesmo tempo torna-se mais do que um evento esporádico
e sim, algo corriqueiro e fácil de acontecer. Diferentemente
do correio eletrônico (e-mail), a troca de mensagens é
em tempo real e comparando-se com os chats da Web, torna-se muito
mais fácil encontrar o outro usuário já que
a maioria destes softwares são acionados automaticamente
ao entrar em rede. Porém, como possuem funções
estritamente objetivas, possibilitam pouco além do uso
convencional e embora não sendo conhecido o uso destes
programas como objetos artísticos, eles possuem um grande
potencial para formação de interfaces de contato
e partilha onde "trata-se (...) de formações
efêmeras de redes, mas nas quais os trabalhos existem somente
e graças a diferentes participantes em locais diversos.
Não é somente a noção de fronteira
que é quebrada, mas também o desejo de estar 'em
relação' com outros. As redes nesse caso são
utilizadas sobretudo com a intenção de um trabalho
coletivo e partilhado" (Prado, s/d (1)). Ou seja, viabiliza
o contato entre artistas que possuem como meta um trabalho coletivo
que necessita de vários participantes em locais diversos.
Mundo de interesses -
Milhares de internautas de todo o mundo se encontram nos
canais de IRC (Internet Relax Chat) espalhados por toda
a rede com o intuito de estabelecer contatos por interesses
comuns independentemente, na maioria das vezes, da distância
física entre os interlocutores. No IRC, as comunidades
virtuais são muito mais vísiveis do que em
outros ambientes da rede, devido a existência de inúmeros
canais de interesses diversos, criados e geridos pelos próprios
usuários. Aqui um dos canais por idade (#30a50anos)
da Brasnet via software Mirc32 5.5 . Visualizado em 05 de
Março de 2000. |
Mesmo aparentemente obsoleto, o uso do IRC (Internet Relax Chat)
é muito usado, principalmente pelos usuários mais
antigos, com o uso de softwares como o mIRC32. O IRC foi concebido
para ser uma área de bate-papo dividida em vários
canais de interesse, supervisionadas por operadores reais e visualizada
por terminais ASCII (somente texto), como era a Internet nos primórdios.
Por ser somente texto sem formatação, foram estabelecidos
consensos entre os usuários, como por exemplo, o fato de
usar só maiúsculas (uso da tecla Caps Lock) ser
equivalente a estar falando em voz alta e humores serem traduzidos
em "carinhas" ou desenhos criados com letras, números
e símbolos disponíveis no teclado. É por
meio do IRC que hoje difunde-se a ASCIIart, designação
dada a desenhos criados com a repetição ordenada
de letras, números e símbolos tipográficos,
o que remete a um trabalho de mosaico.
Mosaico Digital - A ASCIIart
é muito mais antiga do que a Internet, seu surgimento
é tão remoto quanto o uso dos primeiros computadores
nos anos 60. Trata-se da formação de imagens
não-verbais com o uso de símbolos gráficos
e letras justapostos, disponíveis em terminais de
computadores que trabalham somente com texto - denominados
de ASCII. No Videotexto (VDT), sistema telemático
de provimento de dados via linha telefônica, anterior
a Internet, grande parte das figuras ainda são criadas
usando o procedimento usado na ASCIIart. Mesmo hoje, quando
não possuímos mais as limitações
do passado para representar imagens figurativas na tela
do computador, a ASCIIart é muito difundida, principalmente
entre usuários mais antigos. Aqui trabalho de Joris
Bellenger, "Something told me today might not be my
lucky day at all" (1998) disponível no seguinte
endereço: http://www.xs4all.nl/~svzanten/joris/ascii/pre/men.html
. Visitado em 03 de Março de 2000. |
Tão conhecido quanto a WWW, o correio eletrônico
ou e-mail, é um dos serviços mais utilizados entre
os internautas e possui inúmeras possibilidades. Apresenta
como função, enviar mensagens via programas como
Microsoft Outlook, Eudora Light e Netscape Messenger, que podem
conter URLs (endereços de Internet), imagens e arquivos
de qualquer programa ou somente texto. Alguns sites da web e programas
de mensagens instantâneas somam também a função
de editor e receptor de e-mails tornando o serviço muito
mais ágil. O envio não-solicitado de e-mails com
fins comerciais, também conhecido como SPAM, é dos
maiores problemas que assolam o usuário comum e é
fato de que alguns países da Europa consideram como ato
criminoso.
Embora seja muito conhecido dentro do universo dos videogames
- ou simplesmente games - o uso de ambientes em terceira dimensão
(3D) dentro da Internet ainda é moderado. Embora não
sejam poucos, os ambientes virtuais 3D ainda são uma pequena
parcela da Internet e a maioria deles são acessados por
meio de programas específicos ou por meio de plug-ins instalados
em conjunto com o browser para visualizar ambientes criados com
VRML (Virtual Reality Modeling Language). A VRML é o equivalente
em terceira dimensão da HTML (Hyper Text Markup Language),
já que é um arquivo de texto que especifica para
o software visualizador, todas as determinações
de cor, dimensões (altura, largura, profundidade), posição,
forma e endereços de hiperlinks e é também
parte integrante da web. Essa linguagem difere de imagens criadas
em programas gráficos 3D convencionais, já que aqui
é possível adentrar ambientes e "caminhar"
por entre os elementos do espaço, além de ser possível
estabelecer vínculos (hiperlinks) e acessar outros ambientes
e sites da web. Em alguns ambientes VRML criados com applets Java
é possível, ao visitante, abrir portas e janelas,
acionar eventos (na maioria das vezes, animações)
e escutar sons que tornam-se menos intensos quando maior a distância
do objeto sonoro, de modo a intensificar a noção
de deslocamento espacial.
Os mundos virtuais 3D seguem os mesmos princípios da VRML,
porém podem funcionar fora dos browsers da WWW, e possuem
um diferencial importante: cada visitante recebe um avatar - na
maioria das vezes, sob a forma de um ser humano - e com isso é
possível o contato com outros visitantes que se encontram
no mesmo mundo virtual. Por meio do programa Active Worlds é
possível ter acesso a centenas de mundos virtuais criados
pela rede, e onde na maioria dos casos, reproduzem cidades com
suas ruas, igrejas, delegacias, escritórios, casas, placas
de sinalização, plantas, animais, entre outros minuciosos
detalhes. O contato entre os visitantes de um mesmo mundo virtual
se dá por duas maneiras básicas: bate-papo por texto,
semelhante aos habituais na Internet, com possibilidades de mensagens
reservadas; contato visual, onde cada visitante dispõe
de botões que possibilitam gestos e ações
"físicas", como pular, dançar, ajoelhar
e balançar braços e pernas. Os ambientes (VRML)
e mundos virtuais 3D (AW, Viscape entre outros) são cada
vez mais utilizados entre os artistas, seja para a confecção
de trabalhos especialmente criados para o meio, seja para a criação
de espaços para a divulgação de trabalhos
que existem independentemente da rede: as chamadas galerias virtuais.
Comparando-se com as exposições virtuais em sites
da Internet, as galerias 3D ganham em visualização
sob diversos ângulos e distâncias a escolha do visitante
mas perdem em qualidade gráfica.
Cidade Virtual Maravilhosa - Janela
do software Active Worlds versão 2.2, onde é
possível adentrar mundos virtuais 3D criados por
usuários de diversas partes do mundo. Após
ter o programa instalado no seu computador, o internauta
escolhe um dos mundos disponíveis (veja lista à
esquerda), ganha um avatar (na maioria das vezes, com características
humanas) e pode comunicar-se com outros internautas por
meio de gestos e ações "físicas"
(contato visual com o outro avatar) ou usando o bate-papo
tradicional. Aqui, um dos poucos mundos brasileiros disponíveis:
A_Rio, onde pode-se visitar uma cidade com suas ruas, jardins
e prédios públicos. Ainda se conhece pouco
do uso com finalidades artísticas deste softwares
e seus mundos. Visitado em 05 de Março de 2000. |
As atuais videoconferências remetem muito para o que era
um sonho para ficção científica de décadas
atrás: o fato de duas pessoas, cada uma delas em partes
distantes do globo, ou mesmo fora dele (a Internet é também
acessada de estações espaciais) estarem conversando
e se vendo por meio de uma tela de computador em tempo real. O
uso do videofone (que utiliza-se da estrutura disponível
para o telefone convencional) há muito tempo deixou de
ser uma novidade, mesmo para os artistas que trabalham com tecnologia.
O uso das videoconfências via Internet (possíveis
por programas como Microsoft Netmetting e CuSeeMe), ainda é
restrito, obviamente, a um pequeno número de Internautas
que possuem uma WebCam (câmera digital especialmente desenvolvida
para a rede). Embora não sejam videoconferências
já que a comunicação via vídeo só
acontece de modo unilateral, muitos sites pessoais na Internet
têm nas imagens transmitidas em tempo real, uma das suas
principais fontes de audiência, quando curiosamente muitas
pessoas acessam para ver o interior da casa, do escritório,
do jardim ou para qualquer outro espaço que tenham câmeras
ligadas. As Web Cams têm um papel fundamental na prestação
de outros serviços como transmitir as condições
do trânsito e estradas, bem como o tempo e situação
das marés e ainda, são amplamente utilizadas na
realização de trabalhos artísticos, seja
sob a forma de transmissão de imagens de um evento ou como
um canal de interação com o espaço onde se
encontra a câmera.
O uso do vídeo na rede ainda é um tanto limitado
devido a baixa largura de banda (baixa capacidade de troca de
dados) do acesso discado, mas é certo que seu espaço
será ampliado pelo uso doméstico de novos padrões
de conexão mais veloz como a ADSL
(Asymmetrical Digital Subscriber Line) e via cabo (utilizando
fibras óticas da TV a cabo). Atualmente, muitas emissoras
de televisão expandiram-se para a grande rede transmitindo
seus programas para o mundo todo, visualizáveis através
de softwares como Real Player, Media Player e VDO LivePlayer,
onde é possível assistir em tempo real ou somente
alguns programas gravados.
Dando-se muito melhor com a rede estão as rádios
online, que utilizando os mesmos softwares dos vídeos,
transmitem a programação e disponibilizam conteúdos
relacionados (resumos de notícias, imagens e textos inviáveis
pela via sonora) em seus respectivos sites. Algumas destas rádios
online existem somente na rede, o que está se tornando
cada vez mais simples devido ao baixo custo e facilidades técnicas
de criação e manutenção. "Outro
fator relevante é a possibilidade (por enquanto só
podemos falar de possibilidades) de uma maior democratização
no acesso à mídia 'rádio'. O fim da necessidade
da obtenção de concessões, da disputa por
freqüências e de grandes investimentos em antenas e
transmissores abre espaço para a criação
de rádios virtuais por quem se disponha a fazê-lo,
além de facultar às pequenas estações
uma imensa amplificação de seu alcance. Fatores
econômicos e políticos deixam de ser proibitivos."
(Kuhn, 1997:98)
Devido ao ritmo em que se dá todas as inovações
que acontecem na Internet é provável que dentro
de pouco tempo, grande parte das características dos softwares
aqui citados, bem como cada elemento possível de ser executado
na rede, tenham suas características modificadas e as possibilidades
ampliadas. Por isso, ao se abordar um apanhado de possibilidades
técnicas para o artista que adentra o campo da web, se
está na verdade, fazendo um relatório de uma pequena
parte da história da rede, de maneira que tudo que passa
por ela é intrinsecamente transitório.
Este texto é parte integrante
do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Artes
Plásticas “Web Arte no Brasil: A arte telemática
criada por artistas brasileiros para a Internet”, realizado
sob a orientação do Prof. Dr. Milton Sogabe na UNESP
– Universidade Estadual Paulista. Esta pesquisa em nível
Iniciação Científica contou com
o apoio da FAPESP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre
em contato.
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