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2000

FÁBIO OLIVEIRA NUNES







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Ferramentas de ontem

CONTINUAÇÃO

No universo da Cibercultura, os programas de mensagens instantâneas possuem um papel fundamental na criação de vínculos permanentes entre os usuários da rede. Com esse tipo de software, o "encontro" entre duas ou mais pessoas conectadas ao mesmo tempo torna-se mais do que um evento esporádico e sim, algo corriqueiro e fácil de acontecer. Diferentemente do correio eletrônico (e-mail), a troca de mensagens é em tempo real e comparando-se com os chats da Web, torna-se muito mais fácil encontrar o outro usuário já que a maioria destes softwares são acionados automaticamente ao entrar em rede. Porém, como possuem funções estritamente objetivas, possibilitam pouco além do uso convencional e embora não sendo conhecido o uso destes programas como objetos artísticos, eles possuem um grande potencial para formação de interfaces de contato e partilha onde "trata-se (...) de formações efêmeras de redes, mas nas quais os trabalhos existem somente e graças a diferentes participantes em locais diversos. Não é somente a noção de fronteira que é quebrada, mas também o desejo de estar 'em relação' com outros. As redes nesse caso são utilizadas sobretudo com a intenção de um trabalho coletivo e partilhado" (Prado, s/d (1)). Ou seja, viabiliza o contato entre artistas que possuem como meta um trabalho coletivo que necessita de vários participantes em locais diversos.

Mundo de interesses - Milhares de internautas de todo o mundo se encontram nos canais de IRC (Internet Relax Chat) espalhados por toda a rede com o intuito de estabelecer contatos por interesses comuns independentemente, na maioria das vezes, da distância física entre os interlocutores. No IRC, as comunidades virtuais são muito mais vísiveis do que em outros ambientes da rede, devido a existência de inúmeros canais de interesses diversos, criados e geridos pelos próprios usuários. Aqui um dos canais por idade (#30a50anos) da Brasnet via software Mirc32 5.5 . Visualizado em 05 de Março de 2000.


Mesmo aparentemente obsoleto, o uso do IRC (Internet Relax Chat) é muito usado, principalmente pelos usuários mais antigos, com o uso de softwares como o mIRC32. O IRC foi concebido para ser uma área de bate-papo dividida em vários canais de interesse, supervisionadas por operadores reais e visualizada por terminais ASCII (somente texto), como era a Internet nos primórdios. Por ser somente texto sem formatação, foram estabelecidos consensos entre os usuários, como por exemplo, o fato de usar só maiúsculas (uso da tecla Caps Lock) ser equivalente a estar falando em voz alta e humores serem traduzidos em "carinhas" ou desenhos criados com letras, números e símbolos disponíveis no teclado. É por meio do IRC que hoje difunde-se a ASCIIart, designação dada a desenhos criados com a repetição ordenada de letras, números e símbolos tipográficos, o que remete a um trabalho de mosaico.

Mosaico Digital - A ASCIIart é muito mais antiga do que a Internet, seu surgimento é tão remoto quanto o uso dos primeiros computadores nos anos 60. Trata-se da formação de imagens não-verbais com o uso de símbolos gráficos e letras justapostos, disponíveis em terminais de computadores que trabalham somente com texto - denominados de ASCII. No Videotexto (VDT), sistema telemático de provimento de dados via linha telefônica, anterior a Internet, grande parte das figuras ainda são criadas usando o procedimento usado na ASCIIart. Mesmo hoje, quando não possuímos mais as limitações do passado para representar imagens figurativas na tela do computador, a ASCIIart é muito difundida, principalmente entre usuários mais antigos. Aqui trabalho de Joris Bellenger, "Something told me today might not be my lucky day at all" (1998) disponível no seguinte endereço: http://www.xs4all.nl/~svzanten/joris/ascii/pre/men.html . Visitado em 03 de Março de 2000.


Tão conhecido quanto a WWW, o correio eletrônico ou e-mail, é um dos serviços mais utilizados entre os internautas e possui inúmeras possibilidades. Apresenta como função, enviar mensagens via programas como Microsoft Outlook, Eudora Light e Netscape Messenger, que podem conter URLs (endereços de Internet), imagens e arquivos de qualquer programa ou somente texto. Alguns sites da web e programas de mensagens instantâneas somam também a função de editor e receptor de e-mails tornando o serviço muito mais ágil. O envio não-solicitado de e-mails com fins comerciais, também conhecido como SPAM, é dos maiores problemas que assolam o usuário comum e é fato de que alguns países da Europa consideram como ato criminoso.

Embora seja muito conhecido dentro do universo dos videogames - ou simplesmente games - o uso de ambientes em terceira dimensão (3D) dentro da Internet ainda é moderado. Embora não sejam poucos, os ambientes virtuais 3D ainda são uma pequena parcela da Internet e a maioria deles são acessados por meio de programas específicos ou por meio de plug-ins instalados em conjunto com o browser para visualizar ambientes criados com VRML (Virtual Reality Modeling Language). A VRML é o equivalente em terceira dimensão da HTML (Hyper Text Markup Language), já que é um arquivo de texto que especifica para o software visualizador, todas as determinações de cor, dimensões (altura, largura, profundidade), posição, forma e endereços de hiperlinks e é também parte integrante da web. Essa linguagem difere de imagens criadas em programas gráficos 3D convencionais, já que aqui é possível adentrar ambientes e "caminhar" por entre os elementos do espaço, além de ser possível estabelecer vínculos (hiperlinks) e acessar outros ambientes e sites da web. Em alguns ambientes VRML criados com applets Java é possível, ao visitante, abrir portas e janelas, acionar eventos (na maioria das vezes, animações) e escutar sons que tornam-se menos intensos quando maior a distância do objeto sonoro, de modo a intensificar a noção de deslocamento espacial.

Os mundos virtuais 3D seguem os mesmos princípios da VRML, porém podem funcionar fora dos browsers da WWW, e possuem um diferencial importante: cada visitante recebe um avatar - na maioria das vezes, sob a forma de um ser humano - e com isso é possível o contato com outros visitantes que se encontram no mesmo mundo virtual. Por meio do programa Active Worlds é possível ter acesso a centenas de mundos virtuais criados pela rede, e onde na maioria dos casos, reproduzem cidades com suas ruas, igrejas, delegacias, escritórios, casas, placas de sinalização, plantas, animais, entre outros minuciosos detalhes. O contato entre os visitantes de um mesmo mundo virtual se dá por duas maneiras básicas: bate-papo por texto, semelhante aos habituais na Internet, com possibilidades de mensagens reservadas; contato visual, onde cada visitante dispõe de botões que possibilitam gestos e ações "físicas", como pular, dançar, ajoelhar e balançar braços e pernas. Os ambientes (VRML) e mundos virtuais 3D (AW, Viscape entre outros) são cada vez mais utilizados entre os artistas, seja para a confecção de trabalhos especialmente criados para o meio, seja para a criação de espaços para a divulgação de trabalhos que existem independentemente da rede: as chamadas galerias virtuais. Comparando-se com as exposições virtuais em sites da Internet, as galerias 3D ganham em visualização sob diversos ângulos e distâncias a escolha do visitante mas perdem em qualidade gráfica.

Cidade Virtual Maravilhosa - Janela do software Active Worlds versão 2.2, onde é possível adentrar mundos virtuais 3D criados por usuários de diversas partes do mundo. Após ter o programa instalado no seu computador, o internauta escolhe um dos mundos disponíveis (veja lista à esquerda), ganha um avatar (na maioria das vezes, com características humanas) e pode comunicar-se com outros internautas por meio de gestos e ações "físicas" (contato visual com o outro avatar) ou usando o bate-papo tradicional. Aqui, um dos poucos mundos brasileiros disponíveis: A_Rio, onde pode-se visitar uma cidade com suas ruas, jardins e prédios públicos. Ainda se conhece pouco do uso com finalidades artísticas deste softwares e seus mundos. Visitado em 05 de Março de 2000.


As atuais videoconferências remetem muito para o que era um sonho para ficção científica de décadas atrás: o fato de duas pessoas, cada uma delas em partes distantes do globo, ou mesmo fora dele (a Internet é também acessada de estações espaciais) estarem conversando e se vendo por meio de uma tela de computador em tempo real. O uso do videofone (que utiliza-se da estrutura disponível para o telefone convencional) há muito tempo deixou de ser uma novidade, mesmo para os artistas que trabalham com tecnologia. O uso das videoconfências via Internet (possíveis por programas como Microsoft Netmetting e CuSeeMe), ainda é restrito, obviamente, a um pequeno número de Internautas que possuem uma WebCam (câmera digital especialmente desenvolvida para a rede). Embora não sejam videoconferências já que a comunicação via vídeo só acontece de modo unilateral, muitos sites pessoais na Internet têm nas imagens transmitidas em tempo real, uma das suas principais fontes de audiência, quando curiosamente muitas pessoas acessam para ver o interior da casa, do escritório, do jardim ou para qualquer outro espaço que tenham câmeras ligadas. As Web Cams têm um papel fundamental na prestação de outros serviços como transmitir as condições do trânsito e estradas, bem como o tempo e situação das marés e ainda, são amplamente utilizadas na realização de trabalhos artísticos, seja sob a forma de transmissão de imagens de um evento ou como um canal de interação com o espaço onde se encontra a câmera.

O uso do vídeo na rede ainda é um tanto limitado devido a baixa largura de banda (baixa capacidade de troca de dados) do acesso discado, mas é certo que seu espaço será ampliado pelo uso doméstico de novos padrões de conexão mais veloz como a ADSL (Asymmetrical Digital Subscriber Line) e via cabo (utilizando fibras óticas da TV a cabo). Atualmente, muitas emissoras de televisão expandiram-se para a grande rede transmitindo seus programas para o mundo todo, visualizáveis através de softwares como Real Player, Media Player e VDO LivePlayer, onde é possível assistir em tempo real ou somente alguns programas gravados.

Dando-se muito melhor com a rede estão as rádios online, que utilizando os mesmos softwares dos vídeos, transmitem a programação e disponibilizam conteúdos relacionados (resumos de notícias, imagens e textos inviáveis pela via sonora) em seus respectivos sites. Algumas destas rádios online existem somente na rede, o que está se tornando cada vez mais simples devido ao baixo custo e facilidades técnicas de criação e manutenção. "Outro fator relevante é a possibilidade (por enquanto só podemos falar de possibilidades) de uma maior democratização no acesso à mídia 'rádio'. O fim da necessidade da obtenção de concessões, da disputa por freqüências e de grandes investimentos em antenas e transmissores abre espaço para a criação de rádios virtuais por quem se disponha a fazê-lo, além de facultar às pequenas estações uma imensa amplificação de seu alcance. Fatores econômicos e políticos deixam de ser proibitivos." (Kuhn, 1997:98)

Devido ao ritmo em que se dá todas as inovações que acontecem na Internet é provável que dentro de pouco tempo, grande parte das características dos softwares aqui citados, bem como cada elemento possível de ser executado na rede, tenham suas características modificadas e as possibilidades ampliadas. Por isso, ao se abordar um apanhado de possibilidades técnicas para o artista que adentra o campo da web, se está na verdade, fazendo um relatório de uma pequena parte da história da rede, de maneira que tudo que passa por ela é intrinsecamente transitório.

Este texto é parte integrante do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Artes Plásticas “Web Arte no Brasil: A arte telemática criada por artistas brasileiros para a Internet”, realizado sob a orientação do Prof. Dr. Milton Sogabe na UNESP – Universidade Estadual Paulista. Esta pesquisa em nível Iniciação Científica contou com o apoio da FAPESP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre em contato.

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