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Como definir a web arte?
Muito poucos artistas descobriam
que o computador é muito mais do que uma ferramenta.
Norman WHITE (1997:48)
Hoje, é visível a importância que a rede
– ou redes, já que a Internet é constituída
por várias redes – possui dentro da contemporaneidade,
seja ela no campo econômico, político ou cultural.
Não há informação objetiva que não
passe por ela: é um repositório de crescimento permanente
e fluxos constantes em qualquer área do conhecimento. As
redes proporcionam enquanto superfície, uma possibilidade
de recombinação dos meios antecessores e enquanto
estrutura, e torna presente, um sistema análogo ao pensamento
humano, um hipercortéx, como define ASCOTT (1997:337).
Em busca da contemporaneidade refletida nas redes e seus reflexos
em outros campos do conhecimento humano, os artistas passam a
estabelecer experimentações neste novo meio, levando
em consideração o campo de significados suscitado
pelo “estar em rede” e as especificidades que o meio
possui. Assim, paralelamente ao que é produzido especificamente
para a Internet, há também espaços de divulgação
de objetos artísticos: muitas vezes se aproximando do caráter
didático de um livro de história da arte, reproduzindo
imagens ou mesmo, espaços tridimensionais.
1.1 A arte que não é web arte
1.1.1 Galerias e museus virtuais
A grande maioria dos espaços que trazem a insígnia
“artes” na rede não produz um trabalho artístico
pensado para a Internet. Somente divulgam artefatos de arte que
existem independentemente da rede, fazendo referência por
meio de imagens ou espaços tridimensionais a uma pintura,
escultura, instalação ou objeto. São os chamados
“Sites de divulgação”, definidos por
Gilbertto Prado em “Os sites de arte na rede Internet”
(1997a):
“Sites de divulgação: dessa categoria
faz parte a maioria dos sites que se encontra sobre a rubrica
‘arte’ na Internet. Cabe assinalar que muitos dos
trabalhos artísticos disponíveis na rede, são
imagens digitalizadas desse material que estão expostas
em galerias e espaços museais. A rede nestes casos, funciona
basicamente como um canal de informação e indicativo
para uma possível visita a esses espaços. O caráter
de informação e de divulgação são
prioritários e remetem a todo tempo à obra original
e/ou seu autor e/ou espaço de exposição.”
Esses espaços normalmente apresentam-se como “galeria
virtual” ou “museu virtual”, no caso de instituições
e sites pessoais, ou ainda, no caso de artistas de outros meios,
como “portfólio on-line”. Ainda que pensados
dentro de algumas especificidades técnicas inerentes à
Internet, não perdem a sua essência – o caráter
referencial ao objeto original.
Atualmente, há recursos técnicos que possibilitam
a assimilação por meio de outros referenciais além
da imagem digitalizada e estática do objeto artístico,
posicionada em uma página HTML. No site do Museu
do Louvre , é possível visualizar imagens dos
espaços expositivos em 360º graus circundando toda
uma sala, assimilando não só cada obra, como também
a disposição do acervo naquele local. O mesmo recurso
também foi utilizado no site
da 24ª Bienal de São Paulo (1998), onde diante
de trabalhos mais espaciais como instalações de
artistas contemporâneos; a visualização circundante
da sala estabelece uma leitura mais completa da localização
de cada um elementos do trabalho.
Vermelho por todos os lados
- O site da XXIV Bienal de São Paulo, oferece aos
seus visitantes, além das tradicionais imagens fotográficas,
a visualização de obras de arte através
de um aplicativo em Java - Livepicture - onde é possível
ver algumas salas da exposição em 360 graus.
O efeito, chamado de "Panorama" possibilita além
do giro em 360º, a aproximação e afastamento
da imagem (zoom in e zoom out) para melhor assimilação
de detalhes. Aqui, três momentos da instalação
de Cildo Meireles, "Desvio para o vermelho" (1967-98),
onde se encontram vários objetos, todos eles de cor
vermelha. Disponível desde 1998, no seguinte endereço:
http://www.uol.com.br/bienal/24flash/panorama/pano10.htm
. Visitado em 07 de julho de 2005. |
Já a exposição “Ao
Cubo”, realizada no Paço das Artes, em São
Paulo, com a participação de vários artistas
brasileiros – vários deles com preocupações
espaciais em instalações – possui uma versão
referencial na rede, que é híbrida: em uma tela
dividida em dois quadros; no quadro da esquerda utiliza-se das
possibilidades espaciais da VRML, onde o visitante tem algumas
impressões sobre a utilização espacial dos
trabalhos expostos; já no quadro da direita, ao clicar
em alguma forma do espaço virtual em VRML do outro quadro,
neste surge uma imagem fotográfica e referências
sobre o trabalho exposto. Esta apresentação procura
suprir a pouca noção espacial da imagem fotográfica
através do espaço em terceira dimensão, bem
como supre a baixíssima resolução e pouca
legibilidade com dados estáticos – texto e imagem
– que a VRML possui, através do quadro de imagem
e créditos de cada trabalho.
Mas há também contra-exemplos: no site
do artista Patrick Huss, encontra-se um espaço virtual
criado em terceira dimensão, através da VRML, onde
o visitante irá entrar em uma sala – ambientando
o espaço de uma galeria real – onde é possível
ver em suas paredes, várias imagens figurativas de aparência
fotográfica de autoria do artista. A intenção
é clara: ambientar o visitante em uma simulação
de galeria de arte a fim de que através das possibilidades
do tridimensional – ver sob diversos ângulos e distâncias
e ter idéia do conjunto da obra – seja possível
fazer leituras mais enriquecidas do que a imagem estática,
inserida em uma página web. Porém, observa-se que
o convencionalismo do intuito do artista além de estar
muito aquém das possibilidades de um espaço virtual,
simplesmente desconsidera as propriedades da interface: o contemplativo
num ambiente em terceira dimensão é uma instância
que não depende somente da simples simulação
do real.
1.1.2 Design em hipermídia
Ainda enquanto recursos técnicos, as possibilidades de
inclusão de som e imagens animadas na rede Internet ampliam-se
a partir da popularização de softwares como Macromedia
Flash, que possibilitam a criação de animações
que resultam em arquivos de tamanho pequeno – o que significa
maior rapidez de carregamento ao acessar o arquivo na Web. Neste
tipo de software, as possibilidades visuais são praticamente
ilimitadas, podendo criar não só animações
como também interfaces inteiras de navegação
que não dependem das limitações da HTML –
linguagem de hipertexto para a web criada com intuitos muito mais
funcionais do que estéticos.
Parte integrante da dissertação
de mestrado "Web Arte no Brasil: algumas interfaces e poéticas
no universo da rede Internet", realizada sob a orientação
do Prof. Dr. Gilbertto Prado, na UNICAMP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre
em contato.
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