TopoImprimirOutra páginaEsta página
fabiofon.com
2000

FÁBIO OLIVEIRA NUNES







Livros
Artigos científicos
Artigos jornalísticos


 

Sites participativos de web arte

CONTINUAÇÃO

Alguns sites participativos de Web Arte não se limitam a somente colocar imagens em tempo real capturadas em um espaço físico. Além das imagens, estes sites propõem a ação em espaços remotos reais, sob intermédio de algum dispositivo eletrônico físico, como um robô, um braço mecânico ou mecanismos similares.

Quer uma mãozinha? - o artista australiano Stelarc defende que o corpo humano é uma estrutura ultrapassada e obsoleta. Para torná-lo mais próximo das necessidades da conectividade dos dias de hoje, nada melhor do que modifica-lo: o artista tem planos de inserir uma orelha em seu rosto, entre outras tantas modificações. Uma das mais conhecidas, que ele já realizou, foi "The Virtual Arm Project", de 1991, que consistia em uma prótese eletrônica de um braço mecânico controlado por internautas do mundo todo. Novas criações de Stelarc podem ser vista em seu site oficial: http://www.stelarc.va.com.au/.


Um dos trabalhos mais conhecidos de interação por meio de dispositivos instalados em espaços remotos é o "The Virtual Arm Project", realizado em 1991, pelo artista australiano Stelarc que consista em um terceiro braço - mecânico - instalado em seu braço direito que podia ser comandado pelos internautas de todo o mundo, que quando conectados ao site do artista podiam fazer movimentos com dedos e mão da prótese mecânica. Outra experiência de controle remoto está presente no site "Telezone" (http://telezone.aec.at - off-line em 2005) onde o visitante controla um robô via Internet com a intenção de criar uma estrutura arquitetônica com a organização de pequenos blocos de madeira em um espaço físico situado no Ars Electronica Center, Áustria.

As experiências artísticas que são viabilizadas pelo uso de câmeras e dispositivos eletrônicos de tempo real são denominadas como "telepresence art" - arte telepresencial - um conceito desenvolvido pelo artista brasileiro radicado nos Estados Unidos, Eduardo Kac:

"Desde 1989 venho desenvolvendo uma nova forma de arte que inventei e que chamei de 'telepresence art'. Este trabalho tem sido mostrado nos Estados Unidos, na América do Sul, na Europa e, virtualmente, no mundo inteiro através da videoconferência digital, em tempo real, na Internet. Esta nova arte se define na interseção entre interatividade, telecomunicação e robótica"
(Kac, 1997:08)

Gênesis: mutações genéticas via Internet


Eduardo Kac é um dos artistas brasileiros que mais se destacam internacionalmente no meio de criações que se utilizam de novas mídias. Atualmente, o seu trabalho vem tomando força no campo das experimentações biológicas com intuitos criativos: o que é chamado por alguns como Bio-arte. Entre muitos outros projetos relacionados com a criação utilizando parâmetros definidos pela biologia e genética está o trabalho Gênesis, exposto em agosto de 2000, no Itaú Cultural, em São Paulo, que constitui-se em uma instalação que utiliza a rede como canal para interferências. A instalação Gênesis constitui-se em uma sala de paredes escuras com uma projeção de vídeo. Na primeira parede, uma transcrição de um pequeno trecho do antigo testamento onde é possível entender uma possível "autorização" divina para as intervenções da atual engenharia genética: "Deixe que o homem domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os seres vivos que se movem na terra" (Gênesis 1, 28). Em outra parede, a transcrição do texto em inglês para o código Morse e em uma terceira, a tradução do código Morse para o código genético DNA. Cria-se aqui um gene sintético, advindo do texto bíblico. O crítico de arte Arlindo Machado, um dos curadores da exposição, descreve o funcionamento desta instalação:

"O gene sintético contendo o texto bíblico é, em seguida, transformado em plasmídeo (anel de DNA extracromossômico capaz de auto-replicação) e então introjetado numa bactéria E. coli, que o reproduzirá às próximas gerações. As bactérias contendo o gene Genesis apresentam a propriedade de fluorescência ciã (azul esverdeado) quando expostas à radiação ultravioleta e coabitam uma placa de Petri com outra colônia de bactérias, não transformadas pelo gene Genesis e dotadas da propriedade de fluorescência amarela quando submetidas à mesma radiação ultravioleta. À medida que as bactérias vão entrando em contato umas com as outras, um processo de transferência conjugal de plasmídeos pode acontecer, produzindo as seguintes alterações cromáticas: 1) se as bactérias ciãs doarem seu plasmídeo às amarelas (ou vice-versa), teremos o surgimento de bactérias verdes; 2) se nenhuma doação acontecer, as cores individuais serão preservadas; 3) se as bactérias perderem seus respectivos plasmídeos, elas se tornam ocres.

O processo de mutação cromática das bactérias pode se dar naturalmente ou pode ser também ativado por decisão humana, por meio da radiação ultravioleta, que acelera a taxa de mutação. No espaço da galeria onde ocorre a experiência, tanto os visitantes locais como os visitantes remotos (que participam do evento pela Web) podem ativar ou desativar a radiação ultravioleta, interferindo portanto no processo de mutação e ao mesmo tempo possibilitando visualizar o estágio atual das combinações de ciã, amarelo, verde e ocre."
(Arlindo Machado, no texto da curadoria)

A instalação Gênesis constitui-se em um evento que se utiliza da Internet para estabelecer ao visitante, um controle remoto para a interação em um espaço físico, da mesma maneira que acontece no estrangeiro Telezone, só que com uma única opção de interação: ativar a radiação ultravioleta para mutação das bactérias. Por meio do site - especialmente estabelecido para esse evento - o internauta irá se deparar com o status da radiação (ligada ou desligada) e imagens em tempo real, exibindo as bactérias do espaço e suas alterações cromáticas. No espaço físico, além das bactérias em um tubo de ensaio, em uma das paredes está uma projeção microscópica que mostra a "reação" das bactérias a cada intervenção.

GATTACA – Acima, o esquema que demonstra as “traduções” realizadas pelo artista até chegar nos elementos do DNA – Guanina, Adenina, Timina e Citosina, normalmente representados por suas iniciais – presentes no código genético das bactérias e as possíveis alterações após a radiação ultravioleta. Abaixo, a visão do espaço expositivo, sendo que em primeiro plano temos a tela do computador, que conectado a Internet, possibilita acionar a radiação. Ao fundo, a imagem da projeção que ampliava a visualização das bactérias também presentes. Veja mais sobre Kac e sua produção no texto "Arte Transgência via Internet", neste site.


Em diversas ocasiões o artista já realizou outras experiências artísticas utilizando a Internet como canal de participação dos visitantes. A instalação "Rara Avis", exibida em 1997 na I Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre, é um outro exemplo de site participativo de Web Arte com o uso de imagens em tempo real: tratava-se de uma sala com um aviário com pássaros reais e um pássaro estático e colorido que só olhava e raramente falava. Por meio da Web, os internautas podiam ver através dos olhos do pássaro mecânico - que possuía pequenas câmeras - e emitir sons no ambiente, por meio de um programa de videoconferência chamado Cu-SeeMe. A interação acontecia diretamente de visitante virtual para visitante real - do espaço físico da exposição - por meio de sons que o estranho pássaro emitia.

LandScript: o visitante é o autor


Diferentemente da instalação Gênesis, de Eduardo Kac, o site participativo de Web Arte "Landscript" (http://www.eca.usp.br/landscript/ - off-line em 2005), do artista brasileiro Artur Matuck, não necessita de um referente externo para a sua realização e nem utiliza-se de eventos realizados em tempo real entre espectadores. Trata-se de um site com cinco possibilidades de interação para o visitante: são cinco scripts diferentes - comandos que fazem o navegador agir de um certo modo - que se transformam em ferramentas de "escrita" para a criação de resultados insólitos com o uso das palavras. O primeiro, "Prlabian Cafe" irá pedir ao visitante duas palavras que serão interligadas e transformadas em uma terceira. O segundo, "Thelestetic Breeze" irá desconstruir a frase proposta pelo visitante. Em "Theoretical Wind", a frase ou palavra proposta pelo visitante é transformada pela inclusão de elementos distintos ao que foi escrito. Em "Collapsing Island", a desconstrução estabelece uma seqüência em diagonal, misturando elementos. E por último, em "Symmetrical Square", a frase proposta pelo visitante se transforma em um texto inteligível construído pela inversão das palavras e deslocamento de letras.

Aqui, muito mais do que um canal de participação de um trabalho que é criado pelo artista, estabelece-se um espaço para experimentação de possibilidades criativas, por parte do visitante do site. Os papéis de espectador e criador se fundem, pois, ao propor palavras para cada um dos scripts, o internauta passa a utilizar a ferramenta com o objetivo de ter uma criação individual, oriunda da escolha de suas palavras. Por outro lado, "Landscript" é um dos poucos sites participativos de Web Arte que possui um produto final, e que convida em cada um dos scripts, a enviar o resultado de sua experimentação ao autor do site.

Em "Landscript", assim como em outros trabalhos participativos da Web, temos um reflexo que insere a Web Arte no contexto da arte contemporânea: a assimilação de conteúdos de um trabalho de arte torna-se mais ativa e individual quando o espectador e suas ações - físicas ou interpretativas - passam a fazer parte intrínseca da poética do artista.

Este texto é parte integrante do Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Artes Plásticas “Web Arte no Brasil: A arte telemática criada por artistas brasileiros para a Internet”, realizado sob a orientação do Prof. Dr. Milton Sogabe na UNESP – Universidade Estadual Paulista. Esta pesquisa em nível Iniciação Científica contou com o apoio da FAPESP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre em contato.

início