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fabiofon.com
2003

FÁBIO OLIVEIRA NUNES







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Poéticas da interface: Experimentações Pessoais

CONTINUAÇÃO

Como único elemento verdadeiramente animado, um botão pisca-pisca que se assemelha a um post-it de recados, pisca incessantemente neste primeiro momento. No contexto dos programas de mensagens instantâneas, essa é a indicação de que um dos usuários tem alguma mensagem direcionada a você. Ao clicar, surgem mais três botões iguais e um efeito sonoro contínuo similar ao apresentado no ICQ – I Seek You. Novamente clicando sobre um deles, surge um balão de histórias em quadrinhos seguido de um nome, ou melhor, de um nick (apelido), que dá caminho a uma série de chats falsos, animações que simulam possíveis e imagináveis conversas intrínsecas ao universo dos chats e suas conversas sem compromissos, anônimas e muitas vezes, previsíveis.

Outro percurso possível, partindo da mesma área de trabalho, é estabelecido ao clicar no primeiro ícone de cima para baixo, à esquerda, denominado como “caixa de entrada”. Este por sua vez, se assemelha aos programas de recebimento e envio de e-mails e parodia seus elementos listados. Nesta tela, temos diversos links distintos, com destinos não colocados de forma explícita: o visitante não sabe de antemão para onde está sendo direcionado. Essa situação irá se repetir em diversos outros pontos do site. Clicando em redigir mensagem ou no texto “fabio”, o visitante terá o seu programa de e-mail real, aberto, para o envio de uma mensagem para o endereço busarte@hotmail.com. Clicando no ícone que representa uma “carinha” sorridente localizado no campo superior direito – no mesmo lugar que o “x” para fechar, no sistema operacional Windows – o visitante volta para a tela da área de trabalho. Já clicando em “outros itens”, “receita de bolo de chocolate” e no envelope ao lado de “onos”, o visitante-participante irá para uma outra tela desconexa com a atual: apresentará uma janela em semelhança com um dos erros típicos do universo computacional. Todos os últimos botões levam para o mesmo lugar – o que só será sabido pelo visitante quando este retornar numa próxima vez.


Help! – Em ONOS, com similaridade às ações e aparência do antigo sistema operacional DOS – que era ainda utilizado em computadores mais antigos, em 1999 – há vários momentos em que o visitante se depara com simulações de ataques de vírus.

A primeira tela de “erro” apresenta um círculo vermelho com um “x” que caracteriza uma situação limítrofe em diversos softwares: pode significar um erro ocorrido que pode danificar parte do arquivo em processo ou mesmo perdê-lo definitivamente. Não é, certamente, uma situação pela qual um usuário queria passar ou re-experimentar: é a perda de seu tempo e de seu trabalho, e muitas vezes, a difícil tarefa de refazer algo de seu distante ponto inicial. É o arrependimento não consentido, a desfaçatez da máquina diante do homem.

Nesta tela, em segundo plano, há vários dos links colocados na tela de área de trabalho inicialmente além da janela de erro que possui um botão “ok”, onde o visitante-participante poderá dar sua ciência do fato ocorrido. Ao tornar-se ciente, novamente uma situação inesperada. Em uma tela preta, apresenta-se pausadamente um texto coloquial em que um “vazio” informacional procura conversar e tentar convencer o visitante de sua existência e importância.

Voltando a área de trabalho inicial, podemos ainda clicar no ícone “hipercromos”, no qual teremos acesso a outro trabalho que será descrito mais adiante e nos ícones “1789141219” e “web arte”, nos quais temos textos que, respectivamente, coloca em modo manifesto, o trabalho homônimo de intervenção urbana e procura explicar com poucas palavras, o que é web arte. Porém, além do texto, há também um pequeno “assistente” – assim como em default do processador de textos Microsoft Word – criado a partir da imagem de seu criador.

O “assistente” presente em ambas páginas dá acesso a uma página de fundo preto – semelhante ao antigo DOS e ao comportamento de alguns computadores mais antigos, quando ligado – onde aparecem a mensagem “file not found”, seguida de “Busarte vírus found”, uma lista de arquivos possivelmente apagados e aparições de caracteres e figuras coloridas a esmo. O usuário mais desatento poderá realmente acreditar que se trata de uma contaminação virtual.

Em seguida, coloca-se uma janela em que se propõe a execução do “solucionador de soluções”, parodiando agora, os sistemas de auto-avaliação de discos e arquivos que prometem verificar e recuperar erros. Ao usuário que resolver retornar ao ONOS, encontrará a área de trabalho com um “software” similar aos players (reprodutores) de mídia, por onde poderá acessar um texto e posterior currículo do ano de 1999. Ao voltar para a tela da área de trabalho, o usuário poderá ainda “desligar o ONOS”, indo para uma tela que indicará que deverão ser apertadas as teclas ALT e F4 conjuntamente para poder fechar a janela atual e apertar também no botão “kdc” – em algumas das telas de área de trabalho – e acionará um ruído visual e sonoro. Como todo trabalho em hipermídia, a navegação permitirá ao visitante determinar o momento de término de percurso. A partir desse ponto, em que todas as situações foram visitadas, cabe lembrar que estas são passíveis de recombinações: tudo depende de escolhas. Vale lembrar ainda que há vários links ocultos que podem proporcionar uma outra ordem de encadeamento dos vários momentos.

ONOS – ON Operating System participou da versão 2000 do FILE– Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – realizado no MIS – Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, sendo premiado com o terceiro lugar entre os trabalhos selecionados. Foi apresentado no contexto da exposição “México Imaginário”, sala web “Brasicanos e Mexileiros”, núcleo web arte, realizada na Casa da Rosas, em São Paulo, sob a curadoria de José Roberto Aguilar e Felipe Enrenberg, entre os dias 17 de julho a 18 de agosto de 2002. Foi tema de matéria na revista virtual Mundi do provedor ZAZ (atual Terra). Participou ainda da mostra de arte digital no SBMidia 2000 – Simpósio Brasileiro de sistemas de multimídia e hipermídia –, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e foi apresentado, em 2003, como projeto criativo dentro no ICECE – Conferência Internacional de Educação em Engenharia e Computação – realizado na Universidade Santa Cecília, em Santos, SP. ONOS se apresentou, ainda, como quiosque interativo de web arte na Galeria do Instituto de Artes da UNESP, em São Paulo, em fevereiro do ano de 2001.

6.4 Casa Escura

As questões de interface colocadas em ONOS, explicitamente originadas sob o calor de Jodi, passaram a ter outros caminhos a partir de Casa Escura (1999). Ao contrário de ONOS, não requer um repertório mais específico das práticas e situações ligadas ao ambiente computacional. Neste sentido, pode-se dizer que é muito mais intuitivo. Este trabalho foi igualmente desenvolvido em Macromedia Flash, constituído basicamente de botões sensíveis aos movimentos do mouse que acionam sons diversos. Este site está disponível no endereço http://www.fabiofon.com/casaescura. Para a visualização deste trabalho, assim como o ONOS, é necessário o plug-in Flash Player e a utilização de dispositivos de saída de áudio (caixas de som ou fones de ouvido). Sua visualização só é possível através do navegador Internet Explorer, versão 4 ou superior.

Tateando – Tecnicamente muito simples: botões que ao serem “invadidos” pelo mouse – sem o clique – acionam os mais diversos sons, numa tela preta. Casa Escura (1999) propõe ser um espaço de exploração sonora, no qual, os ambientes vão sendo acessados conforme a voz do antifrião. Aqui, a página de abertura do site.

Casa Escura é constituído de sete arquivos SWF, linkados de modo linear, ou seja, o visitante irá passar por cada um deles num percurso que possui um fim determinado. Cada um dos arquivos é constituído por uma tela completamente preta, sem qualquer texto ou figura visível e botões retangulares igualmente de cor escura, tornando-se impossível determinar a sua localização somente pela via visual. Estes botões, invisíveis, carregam uma mesma ação: quando o mouse adentrar a área em que corresponde o botão, um som, associado àquele elemento, será acionado. A partir daí, cada botão recebe a associação de um som diferente e embora possuam, todos, a “mãozinha” típica de links da Internet, somente um deles estabelece vínculo para ir para uma nova tela.

Os efeitos sonoros existentes no decorrer das telas reproduzem alguns sons típicos do universo doméstico – daí o nome Casa Escura – como portas, telefone, eletrodomésticos, relógios, entre outros. Porém, em cada tela, um botão irá estar associado a uma voz, com comandos que visam a indicar o caminho para o visitante. Indicações como “siga!”, “por aqui!”, “venha!”, apresentam onde deverá ser clicado para que a exploração continue numa nova tela com novos sons .

Num meio visual por excelência, Casa Escura propõe a experiência do invisível, num patamar de imersão em que prevalece a dimensão do som puro e simples. A interface é não mais visual mas sonora, tátil na extensão de nossa mão.

Em referência a este trabalho, a Profª. Drª Cristina Costa (ECA/USP), em sua pesquisa sobre a narrativa em mídias eletrônicas discorre:

"[Uma] experiência que explora outras linguagens que não a verbal ou literária foi apresentada por Fabio Oliveira Nunes no 2o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica - 2o FILE. Casa Escura, site criado pelo artista, propõe ao visitante uma experiência baseada apenas em sons. O usuário é convidado a interagir com uma tela escura na qual o clicar do mouse vai acessando sons que simulam a entrada em uma casa às escuras e o percurso pelo seu interior. Algumas expressões como Entre!, Por aqui! e Cuidado! foram usadas, mas a interação é principalmente tátil e sonora, com sons que reproduzem ruídos e não palavras".

Assim como o ONOS, Casa Escura participou da versão 2000 do FILE – Festival Internacional da Linguagem Eletrônica. Foi destaque em breve reportagem realizada pelo jornal Folha de S. Paulo, no caderno ”Guia da Folha”, dia 1º de setembro de 2000, sobre o festival realizado no MIS. Participou também da mostra de arte digital no SBMidia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Casa Escura originou uma outra experimentação sonora, chamada Cabra Cega, que será citada mais adiante.

6.5 Hipercromos e Cromos

Paralelamente às questões de interface, em virtude dos estudos relacionados a cores e suas aplicações, como no trabalho Hospital do Ipiranga (1998), onde manipulo digitalmente as cores de um prédio hospitalar do bairro paulistano do Ipiranga, surgem as primeiras experimentações cromáticas objetivando um artefato digital, as quais chamei de Hipercromos (1998). Este trabalho foi concebido baseado em um comando em Javascript que, inserido em uma página HTML, fazia a cor de página passar gradual e lentamente para outra cor, ambas dadas em valores textuais dos canais RGB, durante o seu carregamento. A cada mudança cromática, passava-se também para uma nova página HTML, linearmente. Porém, em versões mais atuais dos navegadores, o script escolhido – fundamental na exibição do trabalho – deixou de ser lido e aceito, não sendo possível, assim ver o efeito. Como se sabe, a cada nova versão de um navegador, novos recursos são incorporados e alguns são revistos. Este script certamente deve ter sido alterado ou mesmo extirpado. Por conseqüência, a experimentação tornou-se indisponível para visualização, impossível de ser lida em programas mais recentes, obsoleta diante da tecnologia.

Parte integrante da dissertação de mestrado "Web Arte no Brasil: algumas interfaces e poéticas no universo da rede Internet", realizada sob a orientação do Prof. Dr. Gilbertto Prado, na UNICAMP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre em contato.

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