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Poéticas da interface: Experimentações
Pessoais
CONTINUAÇÃO
Como único elemento verdadeiramente animado, um botão
pisca-pisca que se assemelha a um post-it de recados, pisca incessantemente
neste primeiro momento. No contexto dos programas de mensagens
instantâneas, essa é a indicação de
que um dos usuários tem alguma mensagem direcionada a você.
Ao clicar, surgem mais três botões iguais e um efeito
sonoro contínuo similar ao apresentado no ICQ – I
Seek You. Novamente clicando sobre um deles, surge um balão
de histórias em quadrinhos seguido de um nome, ou melhor,
de um nick (apelido), que dá caminho a uma série
de chats falsos, animações que simulam possíveis
e imagináveis conversas intrínsecas ao universo
dos chats e suas conversas sem compromissos, anônimas e
muitas vezes, previsíveis.
Outro percurso possível, partindo da mesma área
de trabalho, é estabelecido ao clicar no primeiro ícone
de cima para baixo, à esquerda, denominado como “caixa
de entrada”. Este por sua vez, se assemelha aos programas
de recebimento e envio de e-mails e parodia seus elementos listados.
Nesta tela, temos diversos links distintos, com destinos não
colocados de forma explícita: o visitante não sabe
de antemão para onde está sendo direcionado. Essa
situação irá se repetir em diversos outros
pontos do site. Clicando em redigir mensagem ou no texto “fabio”,
o visitante terá o seu programa de e-mail real, aberto,
para o envio de uma mensagem para o endereço busarte@hotmail.com.
Clicando no ícone que representa uma “carinha”
sorridente localizado no campo superior direito – no mesmo
lugar que o “x” para fechar, no sistema operacional
Windows – o visitante volta para a tela da área de
trabalho. Já clicando em “outros itens”, “receita
de bolo de chocolate” e no envelope ao lado de “onos”,
o visitante-participante irá para uma outra tela desconexa
com a atual: apresentará uma janela em semelhança
com um dos erros típicos do universo computacional. Todos
os últimos botões levam para o mesmo lugar –
o que só será sabido pelo visitante quando este
retornar numa próxima vez.
Help! – Em ONOS,
com similaridade às ações e aparência
do antigo sistema operacional DOS – que era ainda
utilizado em computadores mais antigos, em 1999 –
há vários momentos em que o visitante se depara
com simulações de ataques de vírus. |
A primeira tela de “erro” apresenta um círculo
vermelho com um “x” que caracteriza uma situação
limítrofe em diversos softwares: pode significar um erro
ocorrido que pode danificar parte do arquivo em processo ou mesmo
perdê-lo definitivamente. Não é, certamente,
uma situação pela qual um usuário queria
passar ou re-experimentar: é a perda de seu tempo e de
seu trabalho, e muitas vezes, a difícil tarefa de refazer
algo de seu distante ponto inicial. É o arrependimento
não consentido, a desfaçatez da máquina diante
do homem.
Nesta tela, em segundo plano, há vários dos links
colocados na tela de área de trabalho inicialmente além
da janela de erro que possui um botão “ok”,
onde o visitante-participante poderá dar sua ciência
do fato ocorrido. Ao tornar-se ciente, novamente uma situação
inesperada. Em uma tela preta, apresenta-se pausadamente um texto
coloquial em que um “vazio”
informacional procura conversar e tentar convencer o visitante
de sua existência e importância.
Voltando a área de trabalho inicial, podemos ainda clicar
no ícone “hipercromos”, no qual teremos acesso
a outro trabalho que será descrito mais adiante e nos ícones
“1789141219” e “web arte”, nos quais temos
textos que, respectivamente, coloca em modo manifesto, o trabalho
homônimo de intervenção urbana e procura explicar
com poucas palavras, o que é web arte. Porém, além
do texto, há também um pequeno “assistente”
– assim como em default do processador de textos Microsoft
Word – criado a
partir da imagem de seu criador.
O “assistente” presente em ambas páginas dá
acesso a uma página de fundo preto – semelhante ao
antigo DOS
e ao comportamento de alguns computadores mais antigos, quando
ligado – onde aparecem a mensagem “file not found”,
seguida de “Busarte vírus found”, uma lista
de arquivos possivelmente apagados e aparições de
caracteres e figuras coloridas a esmo. O usuário mais desatento
poderá realmente acreditar que se trata de uma contaminação
virtual.
Em seguida, coloca-se uma janela em que se propõe a execução
do “solucionador de soluções”, parodiando
agora, os sistemas de auto-avaliação de discos e
arquivos que prometem verificar e recuperar erros. Ao usuário
que resolver retornar ao ONOS, encontrará a área
de trabalho com um “software” similar aos players
(reprodutores) de mídia, por onde poderá acessar
um texto e posterior currículo do ano de 1999. Ao voltar
para a tela da área de trabalho, o usuário poderá
ainda “desligar o ONOS”, indo para uma tela que indicará
que deverão ser apertadas as teclas ALT e F4 conjuntamente
para poder fechar a janela atual e apertar também no botão
“kdc” – em algumas das telas de área
de trabalho – e acionará um ruído visual e
sonoro. Como todo trabalho em hipermídia, a navegação
permitirá ao visitante determinar o momento de término
de percurso. A partir desse ponto, em que todas as situações
foram visitadas, cabe lembrar que estas são passíveis
de recombinações: tudo depende de escolhas. Vale
lembrar ainda que há vários links ocultos que podem
proporcionar uma outra ordem de encadeamento dos vários
momentos.
ONOS – ON Operating System participou da versão
2000 do FILE–
Festival Internacional de Linguagem Eletrônica –
realizado no MIS – Museu da Imagem e do Som, em São
Paulo, sendo premiado com o terceiro lugar entre os trabalhos
selecionados. Foi apresentado no contexto da exposição
“México Imaginário”, sala web “Brasicanos
e Mexileiros”, núcleo web arte, realizada na
Casa da Rosas, em São Paulo, sob a curadoria de José
Roberto Aguilar e Felipe Enrenberg, entre os dias 17 de julho
a 18 de agosto de 2002. Foi tema de matéria na revista
virtual Mundi do provedor ZAZ (atual Terra). Participou ainda
da mostra de arte digital no SBMidia 2000 – Simpósio
Brasileiro de sistemas de multimídia e hipermídia
–, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
e foi apresentado, em 2003, como projeto criativo dentro no ICECE
– Conferência Internacional de Educação
em Engenharia e Computação – realizado na
Universidade Santa Cecília, em Santos, SP. ONOS se apresentou,
ainda, como quiosque interativo de web arte na Galeria do Instituto
de Artes da UNESP, em São Paulo, em fevereiro do ano de
2001.
6.4 Casa Escura
As questões de interface colocadas em ONOS, explicitamente
originadas sob o calor de Jodi, passaram a ter outros caminhos
a partir de Casa Escura (1999). Ao contrário de ONOS, não
requer um repertório mais específico das práticas
e situações ligadas ao ambiente computacional. Neste
sentido, pode-se dizer que é muito mais intuitivo. Este
trabalho foi igualmente desenvolvido em Macromedia Flash, constituído
basicamente de botões sensíveis aos movimentos do
mouse que acionam sons diversos. Este site está disponível
no endereço http://www.fabiofon.com/casaescura.
Para a visualização deste trabalho, assim como o
ONOS, é necessário o plug-in Flash Player e a utilização
de dispositivos de saída de áudio (caixas de som
ou fones de ouvido). Sua visualização só
é possível através do navegador Internet
Explorer, versão 4 ou superior.
Tateando – Tecnicamente
muito simples: botões que ao serem “invadidos”
pelo mouse – sem o clique – acionam os mais
diversos sons, numa tela preta. Casa Escura (1999) propõe
ser um espaço de exploração sonora,
no qual, os ambientes vão sendo acessados conforme
a voz do antifrião. Aqui, a página de abertura
do site. |
Casa Escura é constituído de sete arquivos SWF,
linkados de modo linear, ou seja, o visitante irá passar
por cada um deles num percurso que possui um fim determinado.
Cada um dos arquivos é constituído por uma tela
completamente preta, sem qualquer texto ou figura visível
e botões retangulares igualmente de cor escura, tornando-se
impossível determinar a sua localização somente
pela via visual. Estes botões, invisíveis, carregam
uma mesma ação: quando o mouse adentrar a área
em que corresponde o botão, um som, associado àquele
elemento, será acionado. A partir daí, cada botão
recebe a associação de um som diferente e embora
possuam, todos, a “mãozinha” típica
de links da Internet, somente um deles estabelece vínculo
para ir para uma nova tela.
Os efeitos sonoros existentes no decorrer das telas reproduzem
alguns sons típicos do universo doméstico –
daí o nome Casa Escura – como portas, telefone, eletrodomésticos,
relógios, entre outros. Porém, em cada tela, um
botão irá estar associado a uma voz, com comandos
que visam a indicar o caminho para o visitante. Indicações
como “siga!”, “por aqui!”, “venha!”,
apresentam onde deverá ser clicado para que a exploração
continue numa nova tela com novos sons .
Num meio visual por excelência, Casa Escura propõe
a experiência do invisível, num patamar de imersão
em que prevalece a dimensão do som puro e simples. A interface
é não mais visual mas sonora, tátil na extensão
de nossa mão.
Em referência a este trabalho, a Profª. Drª Cristina
Costa (ECA/USP), em sua pesquisa sobre a narrativa
em mídias eletrônicas discorre:
"[Uma] experiência que explora outras
linguagens que não a verbal ou literária foi apresentada
por Fabio Oliveira Nunes no 2o Festival Internacional de Linguagem
Eletrônica - 2o FILE. Casa Escura, site criado pelo artista,
propõe ao visitante uma experiência baseada apenas
em sons. O usuário é convidado a interagir com uma
tela escura na qual o clicar do mouse vai acessando sons que simulam
a entrada em uma casa às escuras e o percurso pelo seu
interior. Algumas expressões como Entre!, Por aqui! e Cuidado!
foram usadas, mas a interação é principalmente
tátil e sonora, com sons que reproduzem ruídos e
não palavras".
Assim como o ONOS, Casa Escura participou da versão 2000
do FILE – Festival Internacional da Linguagem Eletrônica.
Foi destaque em breve reportagem realizada pelo jornal Folha de
S. Paulo, no caderno ”Guia da Folha”, dia 1º
de setembro de 2000, sobre o festival realizado no MIS. Participou
também da mostra de arte digital no SBMidia na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Casa Escura originou uma outra
experimentação sonora, chamada Cabra Cega, que será
citada mais adiante.
6.5 Hipercromos e Cromos
Paralelamente às questões de interface, em virtude
dos estudos relacionados a cores e suas aplicações,
como no trabalho
Hospital do Ipiranga (1998), onde manipulo digitalmente as
cores de um prédio hospitalar do bairro paulistano do Ipiranga,
surgem as primeiras experimentações cromáticas
objetivando um artefato digital, as quais chamei de Hipercromos
(1998). Este trabalho foi concebido baseado em um comando em
Javascript que, inserido em uma página HTML, fazia
a cor de página passar gradual e lentamente para outra
cor, ambas dadas em valores textuais dos canais
RGB, durante o seu carregamento. A cada mudança cromática,
passava-se também para uma nova página HTML, linearmente.
Porém, em versões mais atuais dos navegadores, o
script escolhido – fundamental na exibição
do trabalho – deixou de ser lido e aceito, não sendo
possível, assim ver o efeito. Como se sabe, a cada nova
versão de um navegador, novos recursos são incorporados
e alguns são revistos. Este script certamente deve ter
sido alterado ou mesmo extirpado. Por conseqüência,
a experimentação tornou-se indisponível
para visualização, impossível de ser
lida em programas mais recentes, obsoleta diante da tecnologia.
Parte integrante da dissertação
de mestrado "Web Arte no Brasil: algumas interfaces e poéticas
no universo da rede Internet", realizada sob a orientação
do Prof. Dr. Gilbertto Prado, na UNICAMP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre
em contato.
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