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Territórios de uma arte global
CONTINUAÇÃO
2.2 Produção brasileira
Nesse processo homogêneo, perdem-se algumas propriedades
nacionais. No nosso caso específico, esvaece a brasilidade
nascida sob o ímpeto do Manifesto Antropófago, de
Oswald de Andrade, em 1928, que descolava a produção
nacional da dependência cultural colocada na época.
Se artistas e literatos como Tarsila do Amaral, Mário de
Andrade, o próprio Oswald, e mais adiante, artistas como
Alfredo Volpi e Alberto Guignard percorreriam o caminho de uma
certa identidade brasileira com a ascensão dos meios eletrônicos
de comunicação e o estabelecimento de uma nova ordem
mundial. essas propriedades minimizam-se, tornando-se elemento
secundário na arte de suportes tradicionais e elemento
praticamente inexistente na produção para a rede.
Desse modo, ao justapor produção nacional e internacional
de arte para a rede, observando eventos como o FILE e Videobrasil,
não há características gerais – exceto
algumas pontuais em alguns trabalhos – que destaquem uma
da outra. Afinal, a própria denominação como
“nacional” se dilui num espaço que é
global por excelência.
O nicho brasileiro é interessante para ser observado como
micro-cosmos, como similaridade da estrutura de um todo –
onde se podem observar uma multiplicidade de poéticas e
uma diversidade de tecnologias existentes no meio telemático
– maneiras diferentes de lidar com o mesmo meio.
Porém, podemos abrir espaço para outras discussões
acerca não só da produção brasileira
para a Internet, mas sim, pensando em produzir novas mídias
de maneira mais geral: a curadora e crítica Daniela BOUSSO
(2002:44), no Fórum de debates “Produção,
Difusão e Mercado nas Novas Mídias” realizado
em 2001, atenta para os incentivos que são dados a artistas
internacionais e que não acontecem em âmbito nacional:
"Não temos um espetáculo ainda constituído,
justamente pela falta de entendimento ou visão na instância
dos recursos. Nenhuma
Sony convidou um artista brasileiro para produzi-lo. Nenhuma
Toyota bancou um artista brasileiro como acontece na Suíça,
onde artistas jovens com dezenove, vinte anos de idade, são
produzidos integralmente e colocados numa feira de arte como a
de Basel".
Ao contrário de outros países onde se estabelecem
centros de estudo e produção em arte mídia,
tais como ZKM,
na Alemanha, CaiiA-STAR,
na Inglaterra, ICC,
no Japão, MECAD,
na Espanha, entre outros vários, no Brasil não há,
hoje, uma
instituição específica para o estudo
desse tipo de produção . Mas em contrapartida, existem
programas de apoio por parte de instituições como
o Instituto
Cultural Itaú e o Instituto Sérgio Motta, que
através de uma seleção, disponibilizam recursos
para produções realizadas e/ou a realizar.
Já no que se diz respeito a pesquisas de produção
artística e reflexão sobre arte e novas mídias,
temos o grupo wAwRwT,
coordenado pelo artista multimídia Gilbertto Prado, numa
pesquisa que visa estabelecer um levantamento e análise
de trabalhos de arte na rede Internet. Outra iniciativa em pesquisa
na net-arte, web arte, é o Laboratório
de Imagem e Som do Instituto de Artes da Universidade de Brasília
, sob a coordenação da artista multimídia
Suzete Venturelli, onde se dedica ao estudo de imagens criadas
em terceira dimensão – VRML
em diversos casos – e sua inserção em ambientes
interativos e/ou multi-usuário. Numa esfera mais abrangente
de outros campos da arte e novas mídias, há ainda
as pesquisas do CIMID
(Centro de Investigação em Mídias Digitais)
na PUC-SP , sob a coordenação de Lúcia Santaella;
o grupo Novas
tecnologias nas artes visuais na Universidade Caxias do Sul
(UCS), sob a coordenação da artista Diana Domingues
e o grupo Corpos
Informáticos, com a participação dos
artistas Alice Stefânia, Maria Luiza Fragoso, Milton Marques,
Carla Rocha e Bia Medeiros, que insere novas tecnologias na arte
performática, produzindo trabalhos artísticos –
alguns deles na Rede Internet – e reflexões teóricas.
Referência - O wAwRwT,
coordenado por Gilbertto Prado, é um dos mais conhecidos
sites de discussão da arte em rede, apresentando
desde o histórico das primeiras experimentações
até os trabalhos mais recentes. Numa nova versão,
o site também passou a dispor de entrevistas em vídeo
com artistas brasileiros e estrangeiros e também,
um banco de dados com referências sobre artistas de
arte e tecnologia. Disponível em http://www.cap.eca.usp.br/wawrwt |
Além das iniciativas realizadas através de instituições
de pesquisas, as universidades, sejam como apoiadoras, ou sejam
apenas como um espaço de aglutinação de participantes,
surgem as iniciativas independentes, onde os artistas, muitas
vezes, com recursos próprios, realizam seus projetos artísticos.
É bom lembrar que, ao lidar com a questão da tecnologia,
mesmo que esta não seja high tech, a especificidade de
algumas situações vão pedir equipes interdisciplinares,
onde se pode dialogar num patamar do possível, ao passo
que poética e resultado se aproximam mais intimamente.
No Brasil, o grupo
SCIArts é um dos espécimes do gênero:
constitui-se de artistas e pesquisadores em ciências exatas
e tecnológicas.
Ao mesmo tempo, a acessibilidade a ferramentas de criação
em hipermídia e extensa bibliografia para referência
técnica, torna operacionalmente viável, para um
único autor, a maioria dos projetos que se baseiam em web
sites. Situação esta, a mais recorrente na produção
brasileira em web arte.
2.3 Artistas brasileiros
Embora a idéia de arte e novas mídias estejam intimamente
ligadas à necessidade de conjecturas interdisciplinares
pela especificidade de algumas máquinas ou pelo diálogo
tecnológico que o poético procura alcançar,
a web arte ainda pode resguardar a imagem do artista-ermitão,
absorto em seus pensamentos e ainda que conectado, sozinho em
seu espaço. O fácil acesso às referências
técnicas – tanto sob a forma de livros quanto de
web sites – bem como as interfaces amigáveis de diversos
programas, possibilitam ao artista de formação mais
“humanista” tornar-se um autodidata ciente dos recursos
que o software, a linguagem, ou mesmo a programação,
podem oferecer. Mudam-se as ferramentas e as situações,
mas o processo criativo como fruto da introspecção
intimamente pessoal pode permanecer.
Assim, surgem trabalhos imbuídos na imensidão da
rede, muitas vezes, tão anônimos quanto os indivíduos
que por lá passam. Como foi o caso do próprio Jodi
em seus primórdios,ou tão recôndito quanto
as páginas da rede de conteúdo mais impróprio.
Desta forma, qualquer mapeamento com intenções de
totalidade torna-se inócuo. Se a Internet for a metáfora
da cidade, fica cada vez mais difícil de saber o que
acontece em seus becos escuros.
Podemos, então, observar algumas pesquisas artísticas
independentes na produção brasileira de web arte.
Como por exemplo, a pesquisa da artista Silvia Laurentiz, que
transita no meio computacional buscando a efetiva participação
do receptor, realizando ambientes virtuais em terceira dimensão.
Como na área VRML de Jacks
in Slow Motion: experience 02 (1998), trabalho em parceria
com Kiko Goifman e Juradir Müller; e
Econ (1999), onde é possível estabelecer novas
maneiras de ler um poema.
Parte integrante da dissertação
de mestrado "Web Arte no Brasil: algumas interfaces e poéticas
no universo da rede Internet", realizada sob a orientação
do Prof. Dr. Gilbertto Prado, na UNICAMP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre
em contato.
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