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2003

FÁBIO OLIVEIRA NUNES







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Territórios de uma arte global

CONTINUAÇÃO

2.2 Produção brasileira

Nesse processo homogêneo, perdem-se algumas propriedades nacionais. No nosso caso específico, esvaece a brasilidade nascida sob o ímpeto do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, em 1928, que descolava a produção nacional da dependência cultural colocada na época. Se artistas e literatos como Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, o próprio Oswald, e mais adiante, artistas como Alfredo Volpi e Alberto Guignard percorreriam o caminho de uma certa identidade brasileira com a ascensão dos meios eletrônicos de comunicação e o estabelecimento de uma nova ordem mundial. essas propriedades minimizam-se, tornando-se elemento secundário na arte de suportes tradicionais e elemento praticamente inexistente na produção para a rede.

Desse modo, ao justapor produção nacional e internacional de arte para a rede, observando eventos como o FILE e Videobrasil, não há características gerais – exceto algumas pontuais em alguns trabalhos – que destaquem uma da outra. Afinal, a própria denominação como “nacional” se dilui num espaço que é global por excelência.

O nicho brasileiro é interessante para ser observado como micro-cosmos, como similaridade da estrutura de um todo – onde se podem observar uma multiplicidade de poéticas e uma diversidade de tecnologias existentes no meio telemático – maneiras diferentes de lidar com o mesmo meio.

Porém, podemos abrir espaço para outras discussões acerca não só da produção brasileira para a Internet, mas sim, pensando em produzir novas mídias de maneira mais geral: a curadora e crítica Daniela BOUSSO (2002:44), no Fórum de debates “Produção, Difusão e Mercado nas Novas Mídias” realizado em 2001, atenta para os incentivos que são dados a artistas internacionais e que não acontecem em âmbito nacional:

"Não temos um espetáculo ainda constituído, justamente pela falta de entendimento ou visão na instância dos recursos. Nenhuma Sony convidou um artista brasileiro para produzi-lo. Nenhuma Toyota bancou um artista brasileiro como acontece na Suíça, onde artistas jovens com dezenove, vinte anos de idade, são produzidos integralmente e colocados numa feira de arte como a de Basel".

Ao contrário de outros países onde se estabelecem centros de estudo e produção em arte mídia, tais como ZKM, na Alemanha, CaiiA-STAR, na Inglaterra, ICC, no Japão, MECAD, na Espanha, entre outros vários, no Brasil não há, hoje, uma instituição específica para o estudo desse tipo de produção . Mas em contrapartida, existem programas de apoio por parte de instituições como o Instituto Cultural Itaú e o Instituto Sérgio Motta, que através de uma seleção, disponibilizam recursos para produções realizadas e/ou a realizar.

Já no que se diz respeito a pesquisas de produção artística e reflexão sobre arte e novas mídias, temos o grupo wAwRwT, coordenado pelo artista multimídia Gilbertto Prado, numa pesquisa que visa estabelecer um levantamento e análise de trabalhos de arte na rede Internet. Outra iniciativa em pesquisa na net-arte, web arte, é o Laboratório de Imagem e Som do Instituto de Artes da Universidade de Brasília , sob a coordenação da artista multimídia Suzete Venturelli, onde se dedica ao estudo de imagens criadas em terceira dimensão – VRML em diversos casos – e sua inserção em ambientes interativos e/ou multi-usuário. Numa esfera mais abrangente de outros campos da arte e novas mídias, há ainda as pesquisas do CIMID (Centro de Investigação em Mídias Digitais) na PUC-SP , sob a coordenação de Lúcia Santaella; o grupo Novas tecnologias nas artes visuais na Universidade Caxias do Sul (UCS), sob a coordenação da artista Diana Domingues e o grupo Corpos Informáticos, com a participação dos artistas Alice Stefânia, Maria Luiza Fragoso, Milton Marques, Carla Rocha e Bia Medeiros, que insere novas tecnologias na arte performática, produzindo trabalhos artísticos – alguns deles na Rede Internet – e reflexões teóricas.

Referência - O wAwRwT, coordenado por Gilbertto Prado, é um dos mais conhecidos sites de discussão da arte em rede, apresentando desde o histórico das primeiras experimentações até os trabalhos mais recentes. Numa nova versão, o site também passou a dispor de entrevistas em vídeo com artistas brasileiros e estrangeiros e também, um banco de dados com referências sobre artistas de arte e tecnologia. Disponível em http://www.cap.eca.usp.br/wawrwt

 

Além das iniciativas realizadas através de instituições de pesquisas, as universidades, sejam como apoiadoras, ou sejam apenas como um espaço de aglutinação de participantes, surgem as iniciativas independentes, onde os artistas, muitas vezes, com recursos próprios, realizam seus projetos artísticos. É bom lembrar que, ao lidar com a questão da tecnologia, mesmo que esta não seja high tech, a especificidade de algumas situações vão pedir equipes interdisciplinares, onde se pode dialogar num patamar do possível, ao passo que poética e resultado se aproximam mais intimamente. No Brasil, o grupo SCIArts é um dos espécimes do gênero: constitui-se de artistas e pesquisadores em ciências exatas e tecnológicas.

Ao mesmo tempo, a acessibilidade a ferramentas de criação em hipermídia e extensa bibliografia para referência técnica, torna operacionalmente viável, para um único autor, a maioria dos projetos que se baseiam em web sites. Situação esta, a mais recorrente na produção brasileira em web arte.

2.3 Artistas brasileiros

Embora a idéia de arte e novas mídias estejam intimamente ligadas à necessidade de conjecturas interdisciplinares pela especificidade de algumas máquinas ou pelo diálogo tecnológico que o poético procura alcançar, a web arte ainda pode resguardar a imagem do artista-ermitão, absorto em seus pensamentos e ainda que conectado, sozinho em seu espaço. O fácil acesso às referências técnicas – tanto sob a forma de livros quanto de web sites – bem como as interfaces amigáveis de diversos programas, possibilitam ao artista de formação mais “humanista” tornar-se um autodidata ciente dos recursos que o software, a linguagem, ou mesmo a programação, podem oferecer. Mudam-se as ferramentas e as situações, mas o processo criativo como fruto da introspecção intimamente pessoal pode permanecer.

Assim, surgem trabalhos imbuídos na imensidão da rede, muitas vezes, tão anônimos quanto os indivíduos que por lá passam. Como foi o caso do próprio Jodi em seus primórdios,ou tão recôndito quanto as páginas da rede de conteúdo mais impróprio. Desta forma, qualquer mapeamento com intenções de totalidade torna-se inócuo. Se a Internet for a metáfora da cidade, fica cada vez mais difícil de saber o que acontece em seus becos escuros.

Podemos, então, observar algumas pesquisas artísticas independentes na produção brasileira de web arte. Como por exemplo, a pesquisa da artista Silvia Laurentiz, que transita no meio computacional buscando a efetiva participação do receptor, realizando ambientes virtuais em terceira dimensão. Como na área VRML de Jacks in Slow Motion: experience 02 (1998), trabalho em parceria com Kiko Goifman e Juradir Müller; e Econ (1999), onde é possível estabelecer novas maneiras de ler um poema.

Parte integrante da dissertação de mestrado "Web Arte no Brasil: algumas interfaces e poéticas no universo da rede Internet", realizada sob a orientação do Prof. Dr. Gilbertto Prado, na UNICAMP.
© Fábio Oliveira Nunes: entre em contato.

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